Da Agência Estado O capitão Rodrigo Pimentel, autor do livro “A Elite da Tropa” e co-autor do roteiro do filme “Tropa de Elite”, premiado hoje com o Urso de Ouro em Berlim, não esperava a vitória na disputa. “Houve o problema com a tradução, uma voz feminina teve que fazer a narrativa.

Isso certamente prejudicou muito.

Além disso tinha vários filmes bons concorrendo na Mostra.

A gente estava preparado para não ganhar”, disse.

Em férias em Florianópolis, Pimentel - consultor de segurança desde que deixou o Bope em 2000 - recebeu a notícia da premiação em um telefonema de José Padilha, diretor do filme. “Ele estava muito emocionado e também surpreso com a premiação”, comentou.

Para o ex-capitão, que inspirou o marcante capitão Nascimento, personagem vivido por Wagner Moura, o prêmio também esteve um pouco ameaçado por conta da reação do público. “O pessoal que viu repetiu o discurso de que o filme é engajado numa questão política fascista.

Isso fez com que a gente ficasse desacreditando.

Só de participar já estava bom”, disse Pimentel, que se envolveu diretamente com a preparação dos atores durante as filmagens para que o longa se aproximasse “o máximo possível da realidade do Bope”.

Para ele, a premiação muda “completamente” esta visão sobre “Tropa de Elite”. “O colegiado de críticos europeus foi bastante sensível ao tema, ao filme propriamente dito e este reconhecimento com certeza tira de cena o estigma de qualquer sombra de fascismo que possa ter recaído sobre a narrativa anteriormente”, disse.

PS: Rodrigo Pimentel esteve no Recife, em outubro do ano passado, para participar de debates sobre violência em meio à grande repercussão de Tropa de Elite.

No dia 15 daquele mês, enquanto fazia palestra, à noite, na quadra da Faculdade Maurício Nassau, tomou conhecimento de que um agente penitenciário tinha atirado contra o próprio abdômen ao final de uma sessão do filme, em uma sala de cinema do Shopping Tacaruna.

Ivson Correia de Oliveira Santos, 39 anos, morreu naquela noite e as investigações da polícia indicaram que ele havia se suicidado.

Amigos do agente informaram que ele estava apreensivo nos últimos tempos.

O motivo seria uma investigação da polícia civil em torno da captura de 12 quilos de maconha na penitenciária de Igarassu, onde Ivson trabalhava, justamente na segurança.