POLÍTICOS BLINDADOS Por Juracy Andrade* Na página de Opinião do JC O que escrevi sobre o Carnaval do cartão incomodou pessoas que ainda acham que o fato de Lula ter sido retirante e operário o redime de qualquer pecado, inclusive original, e o isenta de todo tipo de crítica.
Não é bem assim.
O Lula político profissional assimilou rapidamente toda a sujeira desse mundinho.
Ele hoje é capaz de preferir, na Presidência do Senado, um Garibaldi Alves a um Pedro Simon, senador que distribui aos menos privilegiados quase tudo o que ganha e fez uma peregrinação a pé de Fortaleza a São Francisco do Canindé, lá no Ceará.
Lula não o acha confiável.
Mas é capaz de incorporar à sua caterva de auxiliares, líderes no Congresso, encarregados de fazer churrasco e de pagar suas contas alguns “confiáveis” expoentes da ditadura e gente de comportamento duvidoso, embora “blindada”, para usar a expressão do ministro Napoleão Maia Filho, do STJ, aparentemente mui amigo do clã Sarney.
Neste estranho País, já tivemos um líder do governo no Supremo (Nelson Jobim) e um churrasqueiro-geral da República, um tal de Lorenzetti.
Tem também o Okamoto, que paga dívidas presidenciais e é capitão-mor do Sebrae.
Mas eu quero acrescentar que, apesar disso tudo, ainda voto nele. É que a avacalhação geral no nosso País é tão grande que o espaço para opções encolhe muito.
Votar em quem?
Em Alckmin Opus Dei?
Em algum outro pau-mandado de Fernando 2º ou Ribamar Sarney?
Lula teve pelo menos a sensatez de apostar no descolamento da América do Sul das imposições do grande “irmão” do norte (sabem quem é, né?).
Hoje, países como o nosso, a Argentina, a Venezuela, o Equador, a Bolívia já não submetem automaticamente seus interesses nacionais aos interesses estadunidenses e já não têm mais tanto medo do big stick (uma lapa de porrete) com que nos ameaçou por tanto tempo o bondoso e democrático Tio Sam.
Isso é importante e pode nos aproximar mais da grandeza que merecemos.
Mas não basta.
Um país só pode impor seus interesses se se organizar para atender a toda a sua população e não apenas aos herdeiros das capitanias, sesmarias, grilagens de variada origem e amplitude, nouveaux-riches cevados pela esbórnia política e social.
Daí a importância de se tentar convencer Lula de que não é possível ter tanto prestígio junto ao povão e, ao mesmo tempo, continuar sustentando uma política econômico-financeira que não combina com esse prestígio nem com sua política externa, contrariando patrões e empregados ao mesmo tempo (algo inédito) e fomentando a agiotagem, além de perpetuar a herança dos capitães-mores, dos donatários.
O problema é que Lula e familiares, mais uma boa quantidade de lulistas se empolgaram mesmo com sua ascensão social e política.
Nada de mais a ascensão.
Democracia envolve mobilidade social.
Mas, gente, eles bem que podiam se lembrar de um dos grandes motivos da derrocada do regime soviético: criou-se uma nova classe de camaradas de primeira, a nomenklatura, cujo expoente máximo às vésperas da implosão, Leonid Brejnev, colecionava carros de luxo ocidentais.
A assim dita “vanguarda do proletariado” passou a ser vanguarda do consumismo, da ostentação e, após o golpe do beberrão Bóris Yeltsin, se apossou das empresas estatais numa farra interminável.
Parecidíssimo com os nouveaux-riches da vanguarda do lulismo, com sua extravagante utilização dos tais cartões, instrumentalização de estatais e fundos de pensão, absoluto desprezo pela opinião pública.
Noves fora que Lula já informou que nunca foi socialista nem esquerdista.
Qual o que?
Era conversa de campanha eleitoral. *Juracy Andrade é jornalista.