Por Lygia Falcão, na página de Opinião do JC de hoje O Carnaval Multicultural do Recife este ano foi tratado com uma deferência jamais vista.
Quase uma centena de jornais e sites do exterior dedicaram elogios à folia da cidade, enfatizando especialmente sua riqueza musical e seu caráter democrático.
A agência Associated Press (AP), por exemplo, afirmou que o frevo “é um dos melhores segredos guardados do Brasil” e que os foliões têm acesso gratuito a todas as atrações.
O correspondente que assinou a matéria, Michael Astor, não conhecia nossa cultura de perto.
Mas a viagem de uma semana ao Recife, em meados de janeiro, e a presença no desfile da Mangueira, na madrugada de segunda-feira (4/02), deram ao jornalista a possibilidade de juntar os dois pólos que representam espetacularmente a maior festa brasileira - o frevo e o samba.
Independentemente do resultado do desfile no Sambódromo - sempre sujeito à subjetividade da interpretação dos jurados -, o patrocínio à Mangueira ajudou a ampliar a visibilidade do Carnaval do Recife.
Queiram ou não seus críticos.
A cidade, sua cultura e seu turismo certamente saíram ganhando com a intensa repercussão positiva na mídia nacional e internacional.
Pelo menos 40 jornalistas brasileiros e do exterior vieram ao Recife especialmente para a cobertura carnavalesca.
As TVs aumentaram o número de flashes ao vivo e algumas delas contabilizaram um total de mais de 24 horas de transmissão.
Mesmo assim, no âmbito local, um dos assuntos de destaque neste ano de eleições foi o patrocínio à Mangueira, com resistências e reticências antes e depois do desfile.
Nos jornais, alguns disseram que o frevo nada tem a ver com o samba, outros reclamaram do patrocínio em si, e houve formadores de opinião que simplesmente sentiram falta de certa literalidade na apresentação da Mangueira, como se os enredos das escolas cariocas não fossem, historicamente, caracterizados por uma visão alegórica e quase onírica dos temas que abordam - talvez como forma de fugir da obviedade.
O mais importante, no entanto, é o que o Recife realizou um Carnaval sem precedentes em sua história.
Enquanto no Rio o frevo mostrava sua cara ao mundo - cerca de 2 bilhões de telespectadores assistiram ao desfile -, nossa cidade apresentava números recordes em todas as frentes.
O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, chegou a observar que o pernambucano é mesmo exagerado - principalmente na folia.
Não é para menos.
Tivemos mais de 350 artistas em ação nos dias de Carnaval (90% deles pernambucanos), que fizeram mais de 400 apresentações.
No centro e nas imediações do Marco Zero desfilaram 400 agremiações e o Bairro do Recife recebeu, nos cinco dias de Carnaval, 1,5 milhão de pessoas - uma média de 300 mil foliões por dia.
Os oito pólos descentralizados foram freqüentados por 150 mil foliões e 90 mil passaram pelos polinhos.
O resultado da ampliação do Carnaval (criamos mais oito pólos nos bairros de maior concentração de foliões e aumentamos o número de polinhos para 40) pôde ser sentido na movimentação turística.
O número de turistas em nossa cidade chegou a 600 mil nos cinco dias de Carnaval, com um aumento de 20% em relação ao ano passado, quando houve um fluxo de 500 mil.
Dessa forma, os hotéis trabalharam com uma ocupação próxima dos 100%, alguns com lotação completa, segundo o presidente do Recife Convention & Visitors Bureau e da ABIH-PE, José Otávio Meira Lins.
No período carnavalesco, o Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes-Gilberto Freyre recebeu 285 vôos - 274 domésticos e 11 internacionais -, num total de 50 mil desembarques.
O crescimento do Carnaval do Recife é um fenômeno que vem sendo observado - dentro e fora de Pernambuco - desde os primeiros anos deste século, quando a atual gestão adotou o modelo dos pólos de animação, criou o conceito multicultural e procedimentos para os patrocínios, investiu na democratização da folia e aumentou os incentivos para as agremiações - algumas delas passaram a receber 700% a mais em subvenções do que recebiam no passado.
Além disso, ao longo de 2007 e início de 2008, a prefeitura promoveu o projeto 100 Anos do Frevo, que fortaleceu o nosso ritmo mais popular com a execução de mais de 40 projetos - entre realizações e apoios.
Nada foi feito ao acaso.
Houve planejamento e estratégia - inclusive em relação ao desfile da Mangueira.
Foram anos de estudo, adaptações e imenso trabalho.
Tivemos apoio de técnicos competentes, das empresas e da mídia.
Criamos um produto cultural para além da nossa administração.
Com olhos voltados para os resultados econômicos de médio e longo prazos e, acima de tudo, para a alegria do folião recifense. » Lygia Falcão é secretária de Gestão Estratégica e Comunicação da Prefeitura do Recife.