Rio de Janeiro - Durou menos de uma hora o depoimento do presidente do PTB e ex-deputado federal Roberto Jefferson à 7ª Vara Federal Criminal.
Interrogado pelo juiz Marcelo Granado na condição de reú no chamado processo do mensalão, ele recusou o benefício da delação premiada – quando o réu obtém vantagens ao revelar fatos e nomes de outros envolvidos no processo – e disse ter recebido R$ 4 milhões do PT para seu partido.
No final do interrogatório, afirmou aos jornalistas que “delação premiada é coisa de vagabundo”.
Ao juiz, disse: “Eu não quero negociar isso em hipótese alguma.” O ex-deputado lembrou que, como réu, só poderia falar sobre sua própria atuação: “Reitero, confirmo, ratifico todas as informações que dei no passado.
Mas entendo que o momento era outro, era político.
Agora nós temos a tribunalização dessas questões e a minha presença aqui não é como testemunha política, é de acusado.
Como acusado, falarei sobre os fatos a mim imputados.” Interrogado pelo juiz se confirmava o que havia dito no passado, quando afirmou que o ex-ministro José Dirceu era o criador do esquema do mensalão, Jefferson respondeu que Dirceu era o ministro político do governo Lula e que todos os acordos políticos entre o PT e o PTB passavam por ele.
Sobre os pagamentos que o PT faria ao PTB para financiamento de propaganda partidária, explicou que o acordo envolvendo o repasse de R$ 4 milhões destinava-se às candidaturas de vereadores e prefeitos, em troca do apoio petebista aos petistas em algumas capitais. “O PT alardeava um caixa de R$ 120 milhões.
Nós ajustamos o apoio do PT nessas capitais e a contrapartida de financiamento do PTB em outros estados: R$ 20 milhões.
A primeira parcela foi cumprida, mas aí deu problema, porque não havia recibo.
Os R$ 4 milhões iniciais foram cumpridos, os demais R$ 16 milhões, não”, disse.
O juiz argumentou que receber R$ 4 milhões em espécie era indício de que a negociação não seria muito correta.
Jefferson respondeu: “É assim que funciona, infelizmente.
Dinheiro de eleição nunca é totalmente declarado.
Das eleições que eu participei, quero dar o meu testemunho pessoal, 20% do real são declarados e 80% não se consegue declarar.” Segundo o ex-deputado, isso acontece porque os empresários têm medo de sofrer represálias, caso o candidato que financiaram perca as eleições, e preferem ficar no anonimato. “Das doações, 80% são no caixa 2, por fora”, disse.
Jefferson afirmou ainda, sobre o mensalão, que “o fundo do Plenário, no cafezinho, era um escândalo.
Era conversa de quinta categoria.” E negou ter recebido: “Claro que não.
E foi onde eu comecei a ter problemas.
O PTB pode ser ajudado a se financiar.
Me dá estrutura, mas mesada eu não permito.” Em vários momentos, ele atacou o Ministério Público.
E nos últimos minutos do interrogatório, afirmou: “O Ministério Público aderiu a essa atitude policial mais barata, que não tem responsabilidade pela denúncia que faz.
Fala de todo mundo que quer falar, vaza antes a notícia, destrói reputações.
E os heróis são os meninos do Ministério Público. É triste o país em que seus heróis têm que ser os denunciadores da ação penal e os chefes de delegacia.” Amanhã (13) deverá ser ouvido no processo o ex-deputado Carlos Rodrigues, do PL do Rio de Janeiro.
Para quinta-feira (14), está previsto o depoimento de Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil.