Mesmo tendo o cuidado de não pisar nos caídos, é preciso ser dito que não é verdade que o poeta e acadêmico Flávio Chaves tenha pedido demissão, em caráter irrevogável, da presidência da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
Na verdade, o escritor foi pressionado a pedir demissão.
A sua queda já era dada como certa desde o ano passado.
A Cepe era um caldeirão prestes a explodir, podendo comprometer a imagem do Palácio do Governo.
Foi isto que tentou-se evitar.
A pá de cal foi colocada na segunda-feira à tarde (11), quando o chefe da Casa Civil, Ricardo Leitão, recebeu mais um relato dos problemas administrativos e gerenciais na estatal.
Ele ficou indignado e prometeu providências justamente para esta terça-feira (12).
Antes dele, três ou quatro pessoas já haviam visitado o Palácio do Governo para relatar dificuldades.
Na segunda-feira, o governador chegou a ouvir, de noite, a gravação do programa de Edvaldo Moraes, da Rádio Olinda, tornando pública a crise interna e algumas das denúncias dos funcionários.
Naquela altura, a intenção já era abrir um processo administrativo e afastar o poeta. “Os olhos azuis estão querendo uma providência legal”, afirmou um funcionário da Cepe, pedindo anonimato.
Há relatos de assédio moral contra duas servidoras e também uso de equipamentos da estatal para o jornal particular Gazeta Pernambucana.
Até estagiários da Cepe estariam sendo usados na atualização do site.
Uma das funcionárias afastadas, oriundas da Ceharc, a entidade cultural criada por Chaves, relatou problemas de relacionamento com o poeta, chegou a ameaçar entrar na Justiça, mas desistiu, alegando que não gostaria de prejudicar a imagem do governo Eduardo Campos.
No ano passado, Flávio Chaves também desentendeu-se com a jornalista Ana Camelo, conseguindo seu desligamento em um processo pitoresco.
A jornalista foi flagrada, em seu mail corporativo, elaborando uma nota a ser enviada a parlamentares relatando problemas na gestão de Chaves.
Hoje ela trabalha na Câmara dos Vereadores.
Troca de guarda.
Desde o começo do governo Eduardo, quando chegou na Cepe, a prosa de Flávio Chaves nunca foi bem aceita na estatal.
A primeira polêmica a explodir relacionou-se com a excelente revista Continente Multicultural, também editada pela Cepe, com a inteligência e o requinte dos jornalistas Homero Fonseca e Marco Polo.
Chaves queria despachar a dupla, que produzia a revista mais badalada da Cepe e contava com padrinhos para lá de fortes.
Homero era ligado a Jarbas Vasconcelos.
Já tinha sido seu assessor de imprensa na Prefeitura do Recife.
Marco Polo era indicação do deputado federal Raul Henry, do PMDB, mas como o jornalista é muito light escapou ileso à troca de guarda no governo.
Por conta do episódio, Homero nunca se deu bem com Flávio Chaves.
Nos bastidores da empresa, o que se comentava é que o jornalista Ricardo Leitão, ao assumir o cargo de chefe da Casa Civil do governador Eduardo Campos (PSB), iria vetar o nome de Fonseca, por um desentendimento do passado de ambos.
Teve grandeza e nunca fez isto.
No plano prático, a revista Continente Multicultural foi pouco a pouco encostada, enquanto o jornal de Flávio Chaves é distribuído pelas bancas do Recife, de graça, aos sábados.
Investimentos Nos meios empresariais, conta-se que Flávio Chaves acabou de comprar uma rotativa, no valor de cerca de R$ 120 mil, de uma conhecida gráfica, para transformar a Gazeta Pernambucana em jornal diário.
O faturamento da Cepe mensal é da ordem de R$ 1,5 milhão.
Fora de circulação Chaves é autor de mais de uma dezena de livros.
Mas, conforme já lembrou um escritor ao Blog do JC, há um em especial que ele fez questão de esconder.
Trata-se de “As mãos do Poeta e o Sentimento do Mundo", lançado em dezembro de 2002 pela Editora Bagaço, em badalada noite de autógrafo no escritório de Antônio Campos - advogado e irmão do governador.
A obra é uma homenagem a Carlos Drummond de Andrade.
Mas alegaram, na época, que se tratava de um plágio de outro escritor que fez ensaio sobre o homenageado.
O fato é que Flávio Chaves correu para recolher os exemplares, pedindo a cada pessoa que comprou o livro a devolução, alegando problemas na edição.
Até as livrarias tiveram que devolver a obra para a editora.
A obra é hoje uma raridade.
Mas há quem ainda a tenha.