Por Gilvan Oliveira Da editoria de Política do JC Cartão.
O ponto de partida da recente crise do governo Lula também serve de base para uma investigação policial na Câmara de Vereadores de Ipojuca (Grande Recife), que já dura sete meses.
Em Brasília, foi o cartão corporativo.
Em Ipojuca, o cartão salário.
Graças à apreensão de vários desses cartões de funcionários da Casa, a polícia, agora, investiga vereadores do município por suposta lavagem de dinheiro e peculato (desvio de dinheiro público).
Há indícios de eles contratarem assessores que não trabalham e de reterem parte dos seus salários.
Tudo começou quando o vereador Júnior Alves (PSDB) foi detido em Fortaleza (CE), em julho, junto com o irmão Paulo Henrique Gonçalves Bezerra.
No carro que viajavam, foram encontrados 35 cartões, incluindo de assessores do vereador, e uma folha de papel com as respectivas senhas.
Paulo Bezerra assumiu que fora ele quem os levava e que os tinha recebido como garantia de empréstimos.
Os dois foram liberados após os depoimentos.
A partir daí, o delegado titular da Delegacia Especializada de Crimes Contra a Ordem Tributária, Mozart Santos Araújo, especialmente designado para o caso, começou a apurar o fato.
Descobriu que a Câmara tem cerca de 220 assessores, ou seja, 22 por vereador, quando o gabinete comporta, no máximo, quatro.
E que a maioria não dá expediente. “Eles afirmam que suas funções são de levantar as necessidades da comunidade e fazer levantamento de campo, mas quando os interrogamos, eles não sabem dizer o que fizeram na semana anterior”, relatou o delegado.
Esses assessores, prossegue ele, teriam parte dos seus salários retidos pelo titular do gabinete.
O delegado disse que achou “estranho” esses funcionários terem padrão de vida aquém do que a remuneração poderia propiciar.
Mozart Araújo informou que a retenção pode variar de 50% a 70% do salário.
Em Ipojuca, a remuneração de um assessor varia de R$ 500 a R$ 4.200.
De acordo com ele, haveria duas formas de arrecadar o dinheiro, segundo os depoimentos tomados: o assessor de confiança do vereador fica com os cartões do funcionário e saca o dinheiro, ou ele cobra do funcionário.
Mozart Araújo ressalva que as investigações ainda não foram concluídas.
Mas assevera já ter “fortes indícios” de crime contra dois vereadores e que investigará todos. “Manter uma pessoa que não trabalha e ainda receber parte do dinheiro configura os dois crimes”, garante.
Porém, ele não revela nomes nem qual será o próximo passo das investigações.
Ao todo, 280 pessoas são alvo do inquérito policial, entre vereadores, assessores e ex-funcionários.
O delegado acredita que, com a tomada de novos depoimentos, esse número pode chegar a 400.
A assessoria da Câmara informou os vereadores não iriam comentar o caso.
DEFESA O advogado do vereador Júnior Alves (PSDB) e de seu irmão Paulo Henrique Gonçalves Bezerra, Carlos Gil Rodrigues, nega que ele retenha parte dos salários de seus funcionários.
Apesar de não ser advogado da Câmara nem dos outros nove vereadores, ele garantiu que não existe essa prática na Casa.
Segundo Gil, por trás das investigações estão motivações políticas contra os vereadores. “Estão querendo tirar dividendos políticos de um incidente policial com uma pessoa próxima a um vereador.
Isso parte de algumas pessoas que fazem a política de forma baixa em Ipojuca”, avaliou.
Ele admitiu que Paulo Bezerra, irmão de Júnior Alves, retera cartões salários de “alguns” funcionários do gabinete do irmão para garantir empréstimos.
Mas o fizera à revelia do vereador e que nem todos os cartões eram de funcionários da Câmara.