Por Ana Lúcia Andrade e Paulo Sérgio Scarpa Do Jornal do Commercio O secretário da Casa Civil do governo Eduardo Campos, Ricardo Leitão, faz um alerta.

A solução do PT, com a desistência da tendência de Humberto de disputar as prévias, e a conseqüente confirmação de João da Costa como candidato do partido, já foi dada. “Se foi a melhor, só o processo eleitoral vai determinar”.

Sobre a sucessão de Lula, Leitão lembra que o PT não tem candidato natural, que Ciro Gomes (PSB) é nome mais forte do que chama de “centro-esquerda” e faz até elogios ao governador de São Paulo José Serra (PSDB). “Acho que (Serra) seria um bom presidente”, afirma.

PROJETO MAIOR “O governo não interferiu na disputa interna do PT.

Sempre que o PSB intermediou procurou ser um elemento de solução.

Houve uma dúvida com relação à viabilidade do candidato, colocada pela corrente que é oposição ao prefeito, mas essa disputa teve uma solução.

Se foi a melhor, só o processo eleitoral é que vai determinar.

Na minha avaliação o que está em jogo é algo maior do que o nome de A ou B.

Essa eleição do Recife, e das capitais onde o centro-esquerda disputa, tem que ser vista numa perspectiva mais ampla.

Na perspectiva do avanço de um projeto de desenvolvimento nacional, soberano e de base popular que demoramos muito para tornar viável no País.

Lula disputou quatro eleições para chegar à Presidência apoiado por um conjunto de forças hegemonizado pelo centro-esquerda.

Para que essas forças se mantenham no Poder é fundamental vencer as eleições nas cidades mais importantes do País. É necessário que haja clarividência e consciência crítica para saber qual dos dois candidatos, João da Costa e Luciano Siqueira, tem mais viabilidade para fazer avançar esse projeto no plano municipal e, conseqüentemente, contribuir na próxima eleição para que esse projeto avance nos campos estadual e nacional.” CANDIDATURA ÚNICA “Isso é uma outra questão que precisa ser colocada.

Nós avançamos com duas candidaturas, como defende o PCdoB, ou é mais viável consolidar o projeto de uma candidatura única, que seria ou a de Luciano Siqueira ou a de João da Costa?

Essa discussão vai ser travada agora.

Luciano tem grandeza e consciência do processo histórico para avaliar se a candidatura dele não contribui para que esse projeto avance e, eventualmente, retirá-la.

E João da Costa também terá consciência de que se o nome dele não se viabilizar, até o momento das convenções, ele também pode retirar a candidatura em nome de uma nome que unifique totalmente o nosso campo, se a estratégia for ter um candidato único.

O tempo para isso é o das convenções.” AÇÃO DO PREFEITO “Ele (João Paulo) conduziu (o processo eleitoral no PT) defendendo a posição dele.

E evidentemente, na medida em que defendeu sua posição, ele está sendo responsável pela solução que indicou.

Mas vamos analisar o que aconteceu no PMDB.

A disputa interna do PT não abriu dissidência.

No PMDB, Cadoca e Raul Henry disputaram o comando da legenda e, conseqüentemente a indicação para a Prefeitura do Recife.

E a conseqüência foi uma dissidência dentro do PMDB que levou Cadoca a se filiar a outra legenda e disputar em oposição a Jarbas Vasconcelos.

Isso o leva, hoje em dia, a ser opositor não de João Paulo, mas de Jarbas.

Isso é que é grave.

Muito mais grave, do ponto de vista político-eleitoral, do que a disputa interna do PT que não levou a dissidência.

Se João da Costa se mostrar viável, se unir todo o nosso campo, e se antes disso, for uma candidatura com sustentação social, todos vão se juntar em torno dele.

Quando uma candidatura oferece perspectiva de Poder ela une.” A DISPUTA REAL “Acho que todo mundo tem consciência de que o campo que dirige hoje a Prefeitura e o governo do Estado têm condições políticas e eleitorais de vencer essa eleição.

Dificilmente um candidato apoiado por Lula, Eduardo Campos e João Paulo, que são muito bem avaliados no Recife, não estará no segundo turno.

Nós teremos que errar muito, muito mesmo, para não colocar um candidato no segundo turno.

A disputa no primeiro turno, na verdade, vai se dar é entre Cadoca, Raul Henry e Mendonça Filho.

Essa é que é a disputa real.” CADOCA ALIADO “Cadoca é um nome que, historicamente, não se posicionou no nosso campo.

Ele tem uma densidade eleitoral inicial mas lhe falta uma plataforma.

Ele precisa se situar na eleição do Recife.

Cadoca se situa num terreno ainda muito pantanoso.

Ele pode trazer o discurso da ligação com o governo Lula, mas de que maneira, se o partido do presidente tem um candidato?

A proposta de Cadoca vai se situar onde?

Fica difícil para um candidato, que não constrói um discurso, buscar uma aderência na população.

E ele também é muito identificado com Jarbas.

Mas Jarbas também vai ter um candidato.

Cadoca terá viabilidade na medida em que conseguir identificar, nesse emaranhado de forças que estão se montando para disputar a eleição, o espaço dele e, conseqüentemente, sua prática na campanha.

Essa dificuldade de discurso se traduz numa dificuldade de posicionamento ideológico.

Ele terá dificuldade de construir um palanque pela direita, pelo centro e pela esquerda.” VICE DO PSB “Essa discussão não foi colocada ainda.

O primeiro nome sugerido, o de Danilo Cabral, o governador negou peremptoriamente.

O PT pode buscar outros nomes do PSB que têm relação com a cidade.

E se caminharmos para uma unidade, se a candidatura do PT evoluir e a do PCdoB não, por que não uma renovação da chapa PT/PCdoB?

Com outros nomes do PCdoB.

O vice não tem que ser necessariamente do PSB.

Nós temos que entrar na fase de construção da chapa sem perder a perspectiva do contexto nacional.

Não podemos reduzir a disputa pela Prefeitura do Recife numa questão provinciana.

O conjunto de forças de centro-esquerda, que está se consolidando no Estado, é muito maior do que isso.

Pernambuco tem importância estratégica na vida política do País e não podemos transformar isso numa confrontação menor.

Se não perdermos essa perspectiva vamos ganhar adesão social ao projeto, construir unidade política, estruturar a campanha e ganhar a eleição.” AS OPOSIÇÕES “Essa eleição é crucial para o grupo hoje liderado por Mendonça Filho.

Houve um investimento do DEM em Mendonça.

Ele foi candidato a governador, sinalizando uma renovação da liderança do DEM, porque o Democratas em Pernambuco vive um processo de envelhecimento de suas lideranças.

Nomes como Marco Maciel, Roberto Magalhães, Gustavo Krause e Joaquim Francisco, aparentemente, não se propõem mais a disputar eleições majoritárias.

Da mesma forma que o PSB fez investimento em Eduardo Campos e Jarbas em Raul Henry.

João da Costa também é uma renovação do PT. 2006 iniciou esse processo de renovação e 2008 vai dar continuidade.

Quem perder essa eleição perde um degrau nesse processo.

Só que, se Mendonça perder, ele perde mais do que os outros porque será sua segunda derrota majoritária.

Essa eleição é dura, mas pode ser muito mais danosa a Mendonça, se ele perder, do que aos demais.” SUCESSÃO DE LULA “Desde 89, durante 20 anos, milhões de brasileiros votaram, milhões de vezes, em Lula.

Pela primeira vez essas pessoas não têm um candidato.

Então esse quadro de 2010 está em aberto.

O PT não tem um candidato forte.

Tem a perspectiva de lançar a ministra Dilma Russef (Casa Civil), mas não a vejo como uma candidata para empolgar.

A melhor opção no momento, do ponto de vista eleitoral, é Ciro Gomes.

Há pesquisas que dão José Serra (PSDB) com 30% e Ciro com 22%.

Dilma tem 2%.

Ciro vai ser sempre um candidato competitivo.

Agora, o PT abre mão da candidatura para apoiar outro nome?

Lula pode impor esse nome ao PT? É uma discussão em aberto.

No momento está tudo para José Serra.

Ele está fazendo um grande governo, bem avaliado, é um grande administrador, só trabalha com gente top de linha e, se vencer a eleição, acho que ele seria um bom presidente.” PRIMEIRO ANO “Nós tivemos três grandes preocupações nesse primeiro ano.

Primeiro, reequilibrar o Estado.

Segundo, destravar os chamados projetos estruturadores como a refinaria, o estaleiro, as dificuldades com a Caixa Econômica com quem o governo estava sem operar, há três anos.

E terceiro, buscamos recompor algumas estruturas que estavam desorganizadas.

Por exemplo, a CPRH passou a receber uma demanda de projetos ambientais, para os quais ela estava totalmente desaparelhada, e teve seus quadros rapidamente renovados.

Foram criadas secretarias novas, para ampliar a capacidade de articulação social do governo, como a da Mulher, a da Juventude, a de Articulação Regional.

Agora, que o governo se rege financeiramente, a preocupação maior é acelerar as obras para que o cronograma seja cumprido, assegurar a contrapartida do governo, em termo de financiamento, para que não haja descontinuidade das grandes obras, e identificar as ações nas grandes estruturas, Educação, Saúde e Segurança Pública.” SAÚDE “A média de investimentos, de 2003 a 2006, foi de R$ 56 milhões/ano.

Em 2007, investimos R$ 74 milhões.

Esse salto não se refletiu, fortemente, na melhoria dos serviços porque falta gestão.

O modelo de saúde, implantado no Estado, não atende mais a demanda social que se coloca.

A idéia é criar uma fundação para gerenciar os seis grandes hospitais do Estado, os cinco da região metropolitana e o Regional do Agreste.

Essa fundação vai ser dirigida por administradores profissionais.

Ela vai ter controle sobre compras, licitações, pode trabalhar faixas salariais diferenciadas, vai ter uma fiscalização forte sobre a freqüência, os plantões, para que a gente tenha o controle sobre uma das grandes áreas de gasto do Estado que é a saúde.” EDUCAÇÃO “Vamos trabalhar em cima de reconhecimento do mérito dos professores e diretores.

Os que tiverem melhor desempenho serão beneficiados com ações suplementares do governo, entre elas a concessão do 14º salário, como o governador já anunciou.

Pegamos o Estado com os menores índices do País no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e a situação da rede pública deteriorada.

Houve um investimento de R$ 100 milhões na recuperação da rede e vamos buscar agora a melhoria dos índices.” SEGURANÇA PÚBLICA “Esse é nosso grande grande desafio.

Para se ter uma idéia, o contingente da PM, no ano passado, era menor do que quando Arraes deixou o governo em 98.

Na comparação ano a ano, 2006 com 2007, os homicídios cresceram 2,2%.

Só que é a primeira vez, em vários anos, que não cresceram na média dos 10% a 15%.

Na comparação de janeiro de 2008 com janeiro de 2007 a redução é de 20%.

Ou seja, até o final de maio, quando completa um ano do Pacto pela Vida, provavelmente será alcançada a meta de redução de 12% dos índices de homicídios.

Ainda é alto.

Mas é uma demonstração de que, o que governo está montando, tem dado resposta e que a tendência é baixar até que eles se adeqüem aos índices de Estados que começaram o processo semelhante ao que Pernambuco está implantando, como foi o caso de São Paulo e Minas Gerais.

Não vamos resolver o problema da insegurança com ações pirotécnicas de jeito nenhum.

Esse é um processo que vai ultrapassar esse governo.

Isso tem que ser transformado numa política de Estado, da mesma forma que o Porto de Suape foi.”