Por Leonardo Attuch Muitos anos atrás, logo que cheguei à São Paulo, lembro de ter visto uma revista Imprensa, cuja chamada de capa dizia mais ou menos assim: “Luís Nassif, o jornalista mais influente do Brasil”.
Faz sentido, pensei.
Nassif tinha uma coluna de economia na Folha de S.
Paulo, era membro do conselho editorial do jornal mais lido do País e também parecia ser homem de confiança da família Frias.
Todos esses predicados lhe permitiram atuar durante muitos anos como um dos palestrantes mais requisitados do País.
Nunca deixei de ler sua coluna.
Muitas vezes, era quente e polêmica.
A única coisa que me incomodava era seu tom professoral e sua propensão a atuar como juiz de todos os fatos, como se ele tivesse autoridade técnica e moral para isso.
Apesar dessa falha, a coluna era interessante.
Quase obrigatória.
Nassif, no entanto, começou a se perder com a sua atividade empresarial.
Ao mesmo tempo em que assinava sua coluna na Folha, ele também era dono da agência Dinheiro Vivo, que não conseguiu se adaptar à era da Internet e enfrentou dificuldades financeiras.
Nesse meio tempo, ele lançou outro empreendimento, chamado “Projeto Brasil”.
Era um site particular na Internet, que reunia vários de seus artigos com propostas para curar todos os males do País.
Tal “projeto” tinha vários patrocinadores, como Vale, Odebrecht e Telecom Italia.
Surgiu ali o primeiro conflito de interesses.
Nassif pilotava um canhão na Folha de S.
Paulo, que poderia ser detonado contra qualquer empresa, mas ao mesmo tempo mantinha uma atividade privada patrocinada por grandes corporações.
Essa contradição foi apontada por Diogo Mainardi, da Veja, que escreveu uma coluna chamada “O empresário Nassif”, em agosto de 2005.
Nela, Mainardi dizia ainda que Nassif reproduziu na íntegra, como se fosse texto de sua autoria, uma mensagem que o empresário Luís Roberto Demarco, ex-funcionário do grupo Opportunity, enviou a vários jornalistas.
Demarco, para quem não se lembra, foi o principal agitador na imprensa da caçada ao banqueiro Daniel Dantas, no contexto da disputa pelo controle da Brasil Telecom.
Aquele artigo de Mainardi foi fatal.
Nassif saiu da Folha, perdeu o cargo no conselho editorial e acabou sendo abrigado como um dos blogueiros oficiais da Brasil Telecom, depois que a empresa foi assumida pelos fundos de pensão, aliados de Demarco nessa disputa comercial.
Pouco tempo depois, na Itália, um novo fato desabonador veio a público.
Em Milão e Roma, várias pessoas ligadas à Telecom Italia foram presas justamente por terem, entre outros crimes, encomendado a Operação Chacal, feita pela Polícia Federal contra o grupo Opportunity.
E quem aparece nos autos?
Novamente, Demarco, contratado como “consultor” pela Telecom Italia para fazer a ponte da empresa com policiais, políticos e também jornalistas.
Nassif caiu do pedestal, mas ainda posa de majestade.
Há algumas semanas, iniciou o que chama de “guerra santa” contra a Veja.
Numa dessas colunas, ele decidiu também me atacar.
Disse que a revista agia muito bem quando me “bombardeava”, acusando-me de estar “alinhado” com os interesses de Dantas.
E agora ele promete contar como e por que Veja teria mudado de lado nessa guerra – sobre isso, há controvérsias, mas não vem ao caso.
O fato é que Nassif parece ter perdido a noção do ridículo.
Ele é pago por um blog da Brasil Telecom, ligada aos fundos de pensão, e ainda julga ter autoridade moral para dizer o que é certo e o que é errado.
No caso desse “alinhamento” com Dantas, o que ele pinta como desabonador deve ser chamado apenas de bom jornalismo.
Em 2004, quando foi deflagrada a Operação Chacal, fui o único a remar contra a corrente e a dizer que se tratava de uma armação patrocinada pela Telecom Itália – à época, eu só não sabia que a empresa também bancava o site de Nassif.
Em várias outras oportunidades, divergi de Dantas.
Cito como exemplos a operação arquitetada por ele para a compra da Embratel e até mesmo a situação atual, em que ele é um dos entusiastas da venda da Brasil Telecom para a Oi.
Divergi porque penso que as duas operações são nocivas à concorrência.
O curioso é que, agora, a minha posição é até parecida até com a dos blogueiros do iG.
São eles que estão alinhados comigo.
Paulo Henrique Amorim, por exemplo, chegou até a reproduzir trechos de uma matéria que publiquei na Istoé DINHEIRO.
O problema é que eles erram, mesmo quando acertam.
Isso porque as suas motivações não estão ligadas a qualquer tipo de princípio.
Amorim chegou a confessar que é contra a “Broi” porque corre o risco de ser demitido.
Movido pelo ressentimento, Nassif decidiu classificar o bom e o mau jornalismo.
Mas é triste a sua decadência.
Até outro dia, ele era o todo-poderoso colunista da Barão de Limeira.
Hoje, já não presta mais contas à família Frias, mas sim a Demarco.
Numa de suas colunas, teve até de atacar a ex-mulher desse personagem.
Ele só não percebeu que, para a maioria das pessoas, a ficha já caiu.
Cada vez menos gente se deixa enganar por ele.
De Nassif, pode-se dizer sem medo de errar: o fracasso lhe subiu à cabeça. (*) Editor das revistas Istoé DINHEIRO e Dinheiro Rural