Por Diogo Mainardi “No Natal de 2007, recebi de presente um documento sobre a Telecom Italia.

Ele confirma integralmente uma reportagem que VEJA publicou dois anos atrás.

Na verdade, a história é ainda mais enlameada” No Natal de 2005, recebi documentos sobre um pagamento de 3,25 milhões de reais da Telecom Italia a Naji Nahas.

Tudo ali era suspeito.

Um: o pagamento fora efetuado em dinheiro vivo.

Dois: o carro-forte entregara o dinheiro na sede da Telecom Italia, em vez de entregá-lo diretamente a Naji Nahas.

Três: Naji Nahas faturara 263.000 reais a mais do que o previsto em seu contrato de consultoria.

Passei toda a papelada a VEJA, que publicou uma reportagem sobre o assunto, seguindo o rastro daqueles 3,25 milhões de reais.

A reportagem, baseada em fontes da própria Telecom Italia, dizia que o dinheiro fora entregue a um diretor da empresa, Ludgero Pattaro.

Ele o enfiara numa maleta e, acompanhado por guarda-costas, encaminhara-se ao hotel Renaissance, onde o repassara a um destinatário de identidade desconhecida.

Numa coluna publicada ao lado da reportagem, contei os bastidores do acordo secreto entre a Telecom Italia e o lulismo, sugerindo que aquele dinheiro teria sido usado para azeitar o relacionamento da empresa com o poder político.

O presidente da Telecom Italia, Giorgio Della Seta, classificou as denúncias de VEJA como “absurdas, fantasiosas e sórdidas”.

Ele afirmou ignorar o que Ludgero Pattaro fazia no hotel Renaissance com uma maleta cheia de dinheiro.

Naji Nahas também contestou a reportagem, declarando ter recebido regularmente em seu escritório o valor de 3,25 milhões de reais.

O caso parecia morto.

Eu parecia absurdo, fantasioso e sórdido.

No Natal de 2007, ocorreu uma reviravolta.

Recebi de presente mais um documento.

Ele consta do inquérito da magistratura milanesa contra a Telecom Italia e confirma integralmente o que VEJA publicou dois anos atrás.

Trata-se de um depoimento de Marco Girardi, diretor financeiro da Telecom Italia no Brasil, realizado no dia 11 de novembro passado.

Ele confessou o seguinte: • Giorgio Della Seta, aquele das denúncias “absurdas, fantasiosas e sórdidas”, amigo de Lula e de Marta Suplicy, mandou-o preparar um pacote com 1,3 milhão de dólares em dinheiro vivo. • Um carro-forte fez a entrega de 3,25 milhões de reais na sede da Telecom Italia.

Ali mesmo, um cambista trocou os reais por dólares. • Os dólares foram entregues a Ludgero Pattaro, assessor direto de Giorgio Della Seta.

Ele acondicionou o dinheiro em pacotes de diferentes valores, enfiou-o numa maleta e dirigiu-se ao hotel Renaissance, repassando-o a algumas pessoas que Marco Girardi nunca vira. • Alguns dias depois, Giorgio Della Seta mandou o diretor financeiro entregar mais 406.000 reais a Ludgero Pattaro, para um pagamento análogo.

Mas a história é ainda mais enlameada.

Outro diretor da Telecom Italia, Marco Bonera, admitiu em juízo ter transportado 300.000 dólares a Brasília, para recompensar um grupo de deputados federais.

A leitura da confissão de Marco Girardi mostra que aqueles 300 000 dólares, adiantados pela Pirelli como “despesas de viagem”, fazem parte da transação com Naji Nahas.

Até 2006, a Telecom Italia foi a grande aliada do lulismo na batalha pelo espólio da Brasil Telecom.

Um espólio que está para ser cedido à Telemar, por meio de um decreto presidencial.

Ludgero Pattaro, o homem da maleta cheia de dólares, é candidato a uma das vagas no conselho consultivo da Anatel, que analisará o negócio.

Absurdo?

Fantasioso?

Sórdido?

Sim, tudo isso.