Da Agência Brasil Brasília - Desde a semana passada, quando a questão dos gastos com o cartão corporativo levou à demissão da ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, a oposição fala de investigar o assunto no Congresso.
Mas o próprio governo resolveu tomar a iniciativa.
No primeiro dia de atividade legislativa em 2008, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), dedicou-se a colher assinaturas para a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre os gastos de autoridades do Executivo nos últimos dez anos, tanto com o cartão corporativo quanto com a chamada “conta B”, utilizada para suprimento de fundos desde antes da criação do cartão, em 2001.
Jucá diz que já tem 28 assinaturas – são necessárias 27, número equivalente a um terço dos senadores – e que vai protocolar a criação da CPI amanhã. “Tenho as assinaturas necessárias.
Vamos aguardar mais alguns senadores que ligaram dizendo que gostariam de assinar e amanhã, provavelmente no final da manhã, vamos entregar na secretaria-geral do Senado o pedido”. “A CPI não seria necessária, mas pior do que fazer a CPI é ficar uma nuvem pairando em cima do governo como se o governo tivesse algo a esconder, tivesse algum comprometimento, tivesse feito alguma questão errada, como inclusive estavam levantando questões ligadas à família do presidente [LULA], disse Jucá. “Como o governo não tem o que esconder, vamos fazer a CPI e vamos averiguar”.
O objeto de investigação da CPI, segundo Jucá, serão todos os gastos desde 1998 em suprimentos de fundos, adiantamentos e cartões corporativos. “Quem estiver errado que pague”.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que propõe a criação de uma comissão mista envolvendo deputados e senadores (CPMI), criticou a iniciativa dos governistas. “É uma manobra do governo para evitar a apuração séria dos gastos com os cartões, o intuito é de manobra e assusta.
Vamos continuar colhendo assinaturas para uma CPI mista”. Álvaro Dias (PSDB-PR), vice-líder tucano no Senado, afirmou que o governo deseja criar uma “fábrica de pizza”. “Não há como concluir uma CPI dessa natureza com resultados visíveis para a população”, disse o parlamentar, que considera o objeto da investigação “uma coisa confusa”, com período longo.
A oposição sugere iniciar a investigação em 2002, quando teve início o uso do cartão corporativo, criado em 2001. “Se o PT identificou irregularidades naquele tempo [ANTES DE 2002], por que não propôs a instalação da CPI quando era oposição?
Por que deseja investigar só agora?
Aliás, o senador Romero Jucá foi líder do governo Fernando Henrique Cardoso.
Ele poderia dar todas as explicações que fossem necessárias agora”, declarou Dias.
O deputado Henrique Fontana (PT-RS), líder do governo na Câmara, argumentou que “as contas tipo B tinham uma transparência muito menor que os cartões corporativos”.
Lembrou também que tudo que está sendo publicado pela imprensa nos últimos dias tem como fonte o Portal da Transparência, que é do governo, da Controladoria-geral da União (CGU).
Ele indagou se é justo suspender discussões “importantes” e “concretas” como a da reforma tributária por causa da “batalha política” entre oposição e governo.