Por André Regis Definitivamente, 2008 não começou bem para Lula.

O início do ano foi marcado ainda pela derrota do governo na sua tentativa de prorrogar a CPMF.

Para compensar a perda de receitas, os ministros da Fazenda e do Planejamento anunciaram o aumento de impostos.

Sendo em sua própria essência negativa, inclusive, por conta da quebra de acordos públicos firmados com a oposição, foi a primeira notícia de impacto do ano.

Logo em seguida, todos veículos de comunicação passaram a destacar o inesperado retorno da febre amarela, com a morte de mais de uma dezena de pessoas.

Sugerindo incompetência governamental na área da saúde, os telejornais mostraram centenas de pessoas em filas nos postos de vacinação.

Em entrevista a revista Piauí, provavelmente, para atingir Tarso Genro, José Dirceu afirmou que a sede do PT de Porto Alegre foi construída com dinheiro de caixa dois.

Avivando o escândalo do mensalão.

Depois, nessa mesma temática, passamos a acompanhar os depoimentos dos envolvidos na quadrilha dos 40, principalmente os de Marcos Valério e Delúbio Soares (ambos afirmando que toda a cúpula do PT tinha conhecimento de suas operações voltadas para fazer caixa dois, para compra de base parlamentar e para enriquecimento).

Posteriormente, a impressa noticiou o significativo aumento do desmatamento na floresta amazônica.

Diante da grande repercussão internacional, alguns membros do governo, inclusive o próprio Lula, questionaram os próprios dados oficiais.

Entretanto, o ministro Sérgio Resende, da Ciência e Tecnologia, desmentiu e constrangeu a todos ao afirmar que os dados estão corretos.

Como se não bastasse, Lula diz que não existem culpados e que o problema é apenas uma coceira que todos pensam ser algo mais grave.

Em seguida, novo escândalo é gerado pelo uso indevido de cartões corporativos por vários ministros e outros auxiliares do presidente.

Tendo como resultado a saída da ministra Matilde Ribeiro da pasta da promoção da igualdade racial.

Mais um ministro, o oitavo, que deixa o governo após denúncias de imoralidade administrativa.

Ironicamente, Matilde saiu reclamando da falta de igualdade de tratamento ao dizer que não era a única a cometer irregularidades administrativas pelo uso indevido do cartão corporativo da Presidência da República.

Vale salientar que Lula não a demitiu.

Ao receber seu pedido de exoneração, Lula a elogiou, agradeceu e lamentou seu desligamento do governo.

Em outras palavras, foi como se Presidente dissesse: “Matilde, companheira, que azar o seu de ser pega.

Que sirva de exemplo para os demais ministros.

Quem for pego, sai”.

Depois houve a polêmica nomeação, na iminência de mais um apagão, de Edison Lobão para o Ministério de Minas e Energias, e a, conseqüente, posse de seu atrapalhado filho, e, suplente, no Senado.

A cobertura da impressa foi implacável contra a escolha.

No contexto externo, a crise americana que tem provocado incertezas globais, certamente, contribuiu para a grande retirada de investimentos estrangeiros do Brasil neste último mês.

O alerta vermelho foi acionado.

Enfim, são muitas notícias ruins e respostas desastrosas num intervalo de apenas 30 dias.

Mais do que ninguém, Lula sabe que más notícias se combatem com boas notícias, mesmo que fabricadas.

Assim, Dilma Rousseff foi escalada para fazer um balanço-propaganda do PAC.

Porém, a estratégia não deu bons resultados.

A cobertura da imprensa foi negativa para o governo.

Houve ênfase no fracasso da execução do programa, porque de acordo com os números do Planalto, dos 16,5 bilhões de reais reservados para o PAC em 2007, só 4,5 bilhões foram gastos, ou seja, 27%.

Tudo indica que o arsenal disponível para pirotecnias e factóides está muito desgastado.

Dificilmente, a estratégia de viajar pelo país anunciando investimentos continuará sendo bem sucedida.

Com o tempo, considerando que os investimentos em infraestrutura continuam insignificantes, quando comparados ao pagamento de juros (em 2007, o Brasil pagou mais de R$ 160 bilhões, ou 6% do PIB), por exemplo, todos perceberão que o PAC não passa de uma espetacular jogada de marketing político.

Por tudo isso, será o retorno da urucubaca?

Para quem não lembra, em 2005 no auge das denúncias de Roberto Jefferson, Lula, usando este termo, reclamou da falta de sorte.

Bem, se há algo que Lula não pode se queixar é de falta de sorte.

Afinal, começou o carnaval.

PS: André Regis é Ph.D. em Ciência Política pela New School for Social Research de Nova York, Doutor em Direito pela UFPE.

Conselheiro Federal da OAB.