Joel Barbosa, na Isto É Prédios projetados pelo arquiteto em Brasília precisam de adaptação para funcionar A obra do arquiteto Oscar Niemeyer é admirada em todo o mundo.
Seus traços modelam a silhueta do Palácio do Itamaraty, em Brasília, exaltam as curvas da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e arrancam elogios no Exterior, como o Parque Aquático de Potsdam, na Alemanha.
Um gênio?
Sem dúvida.
Mas os gênios também têm momentos ruins e com Niemeyer não é diferente.
Ele costuma ser criticado por projetos pouco funcionais, inúteis e até de gosto duvidoso.
A mais recente obra do arquiteto na capital federal – o museu e a biblioteca do Conjunto Cultural de Brasília, inaugurados há pouco mais de um ano – reúne todas essas características. “É uma desonra para um país como o Brasil e desconfortável para a arte”, disse o jornal The New York Times, referindo-se à falta de luz natural do museu que mais parece uma cuia.
O diário nova-iorquino vai mais longe e diz que as obras de Niemeyer são “mal acabadas” e seus edifícios “descuidados”.
As críticas ecoam por aqui. “A biblioteca e o museu são fabulosamente ruins.
O museu parece mais uma colina de material de construção, tudo por dentro e por fora é malfeito.
A biblioteca é caso de Procon”, diz Frederico Flósculo, professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília. “Oscar se esqueceu completamente do usuário.
Esse museu serve mais para ser o memorial Niemeyer e mesmo assim só dá para entrar com ar-condicionado.” O museu não tem acervo nem função.
Claro, a culpa por não expor obras pode ser creditada aos curadores.
Mas o espaço é também criticado por ser escuro e fechado.
A mostra mais importante até o momento foi a do próprio Niemeyer. “O museu é limitado a determinados tipos de exposições. É um grande salão”, diz o arquiteto Daniel Mangabeira. “Niemeyer pecou na funcionalidade e isso trouxe prejuízos ao público.” A Biblioteca Nacional é uma réplica dos edifícios do realismo soviético dos anos 50, presentes nos primeiros blocos de apartamentos de Brasília.
Inaugurados em 1960, eles hoje sofrem grande desvalorização por questões estéticas.
O prédio é todo guarnecido de vidros e fica virado para o poente, sob o sol escaldante de Brasília.
Por isso, precisam ser revestidos de forma a proteger os livros. “Sem a película que impedirá que o sol atinja o acervo e os visitantes, fica difícil montar o espaço”, reclama o diretor da biblioteca, Antônio Miranda.
Colocar o artefato custará em torno de R$ 160 mil.
A previsão é que a biblioteca, inaugurada duas vezes, só comece a funcionar, de fato, daqui a três anos, diz Miranda.
O Conjunto Cultural conseguiu ainda atrapalhar a vista da majestosa Esplanada dos Ministérios para quem chega pelo Eixo Monumental pelo Oeste.
O Memorial dos Povos Indígenas é outra obra que ficou anos ociosa.
Espécie de parafuso gigante que leva a uma oca, recebeu uma película roxa nos vidros para conter o calor.
Aliás, este é um dos maiores problemas dos prédios de Niemeyer em Brasília.
Recentemente, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, sentiu o drama na pele.
Ele resolveu celebrar a passagem de seu aniversário na Catedral, espécie de igreja-estufa nos dias mais quentes.
Arruda foi sucumbindo aos poucos ao calor, tirou o blaser e arregaçou as mangas da camisa azul que, antes mesmo do ritual da comunhão, estava encharcada.
Atrás de todos esses projetos está o escritório de Niemeyer em Brasília, que não passa por crises por ter a preferência para novas criações na capital, com preço 30% acima dos de mercado, segundo especialistas.
Seus discípulos não gostam de discutir as obras do mestre que deram errado. “Esse debate é para sacanear o mago da arquitetura”, reclama Carlos Magalhães, sócio de Niemeyer.
Obra: MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS Inaugurado: em março de 1989 Problemas: o espaço é inadequado para o acervo, o interior é escuro e uma película roxa reveste os vidros Obra: BIBLIOTECA NACIONAL DE BRASÍLIA Inaugurada em: 15 de dezembro de 2006 Problemas: na prática, o local ainda não funciona.
Está vazio e levará mais três anos para ter acervo porque o prédio é mal posicionado e precisa ter os vidros cobertos com uma película (com um custo de R$ 160 mil) para o sol não bater nos livros Obra: MUSEU NACIONAL DE BRASÍLIA Inaugurado em: 15 de dezembro de 2006 Problemas: é escuro e fechado, não tem acervo nem chapelaria