Jamildo, tudo em ordem?
Já que também saiu no teu blog, te reproduzo o email que mandei hoje de manhã a Scarpa.
Agradeço desde já o interesse e eventuais cutucões. É trocando idéia que a gente se entende.
Abç, Ivan Bom dia, Scarpa, tudo em cima?
Te escrevo hoje no meu dever de articulador estadual do MNDH para comentar a nota que abre sua coluna de hoje.
Te faço com todo o carinho que você sabe que eu tenho por vc, na esperança de que algumas coisas possam ser realmente esclarecidas.
Em todos os seus 25 anos de existência, o Movimento Nacional de Direitos Humanos jamais foi cooptado por governo algum.
Tentativas não faltaram, mas as entidades que formam essa articulação têm a convicção de seu papel dentro da democracia e da justiça social que buscamos.
Você é testemunha que nosso discurso - e nossa prática - sempre mantiveram a coerência que tanto cobramos das demais instituições.
Nos posicionamos com veemência não só na ocasião da \gravata\ dada pelo coronel (hoje aposentado) Luiz Meira em um estudante que protestava contra um abusivo aumento de passagens (agora repetido).
Especialmente nos últimos anos, quem tem ouvidos para ouvir escutou nossa voz em diversas ocasiões em que os direitos humanos estavam sendo violados.
Seja em casos de violência, preconceito, censura e tantas outras violações que enfrentamos no nosso dia-a-dia.
Isso fazemos tanto no trabalho de nossas 27 entidades filiadas em Pernambuco (são mais de 400 no Brasil), quanto juntos, em forma da articulação do MNDH.
Algumas vezes somos criticados, principalmente por pessoas que não conhecem nosso trabalho, por falar demais.
Ou por não dar atenção individualizada a todas as vítimas da violência. É claro, até por uma questão de estrutura e pessoal, não temos condições de acompanhar a totalidade dos casos de violações de direitos.
Certos casos, porém, são emblemáticos.
Vistos dentro de um contexto, representam uma série de violações e sua reparação representa a possibilidade de mudança em determinadas práticas, em especial do poder público.
O caso do assassinato de Dênis Francisco dos Santos é um desses.
Desde o primeiro momento nosso filiado Cendhec, através principalmente (mas não só) do advogado Marcelo Santa Cruz acompanha o processo e a familia do jovem.
O Gajop, quando necessário, também colocou-se à disposição como a sua nota mesmo reconhece.
Nos mais diversos espaços (seja na imprensa, seja em espaços de participação como conselhos e conferências) temos - sim - usado nossas palavras para cobrar do poder público a punição dos criminosos que assassinaram o adolescente.
Mais que isso.
Cobramos desta (e de qualquer outra) gestão as ações necessárias para combater a violência dentro de uma perspectiva de direitos humanos.
Sabemos, como dizemos reiteradas vezes, que violência não se combate apenas com o aparelho coercitivo do estado.
E quando a violação parte dos agentes do estado, o que não é raro, o mesmo estado precisa agir com veemência para que os responsáveis - todos eles - sejam punidos.
Não é possível que nossa polícia continue colecionando casos de tortura e morte especialmente em períodos de festa, como é o carnaval.
Não é possível que, ano após ano, as mesmas vítimas (jovens, negras e pobres) precisem temer por sua vida justamente na época do ano em que costumam esquecer dos seus problemas.
Nossas entidades não estão esquecidas, por exemplo, do carnaval de 2006, quando vários jovens foram torturados e jogados ao rio por um grupo de oito policiais liderados pelo tenente Sebastião Antônio Félix.
Dois dos jovens, Diogo Rozendo Ferreira (15 anos) Zinael José de Souza (17) acabaram morrendo.
O grupo já foi, inclusive, citado pela vara de crimes contra a instância.
Agora, a sociedade aguarda o julgamento de um recurso no Tribunal de Justiça para que o processo continue andando.
Enquanto isso, porém, todos os pronunciados permanecem em liberdade.
O MNDH, através de suas filiadas, acompanha também esse caso, inclusive apresentado ao relator da ONU para execuções sumárias, Phillip Aston.
Para que finalmente esses criminosos sejam submetidos à lei, é importante que caminhemos juntos e não nos calemos jamais.
Nem a sociedade civil organizada, nem os mecanismos de justiça, nem a imprensa.
Um grande abraço fraterno, Ivan Moraes Filho