Do site Livre Acesso Uma medida da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco tornou mais difícil o acesso dos jornalistas a informações criminais.

Em uma ordem que teria sido divulgada no dia 17 de janeiro, a secretaria proibiu funcionários do Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods) da Polícia Civil de prestarem informações sobre ocorrências policiais aos jornalistas.

A determinação impede que jornalistas tenham acesso direto a informações criminais por meio do Ciods, passando a depender da assessoria de imprensa da secretaria para obter dados sobre ocorrências policiais.

O Ciods centraliza as informações criminais e é usado por jornalistas de veículos impressos, online, rádio e TV como fonte direta de informação para a cobertura policial.

Controle social O Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco classificou a medida como um “obstáculo ao trabalho dos profissionais” e uma “restrição à liberdade de imprensa”.

Em nota divulgada na internet, o sindicato afirmou que os profissionais “se vêem impedidos de apurar e divulgar os dados com a maior precisão possível sobre a violência no Estado.” Segundo a diretoria do sindicato, as informações passadas pelo Ciods permitiam que os jornalistas fizessem uma contagem paralela dos dados criminais, que eram assim comparados aos dados oficiais. “A segurança pública é uma área crítica em Pernambuco, a eficiência da polícia é duvidosa e os números são assustadores”, afirmou a diretoria do Sindicato ao site LivreAcesso. “Sem os números diretos do Ciods, ficamos a reboque do governo.

Ficamos sem um instrumento de comparação”, disse a diretoria do sindicato.

A medida também prejudica as chamadas “rondas”, pelas quais os jornalistas buscam informações imediatas sobre ocorrências criminais, tanto de dia quanto à noite.

Segundo o Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, alguns jornalistas que ligaram para a assessoria de comunicação da secretaria pedindo dados sobre ocorrências criminais após as 18h foram informados que o expediente já estaria encerrado.

Canal informal A Secretaria de Defesa Social afirma que o objetivo da medida foi “evitar que os funcionários do Ciods atendam jornalistas ao invés de atender a população”.

Segundo o chefe do Ciods, Sérgio Viana, a demanda dos jornalistas passou a atrapalhar os atendimentos do centro. “O Ciods é um atendimento de emergência e não deve atender assuntos que não sejam de emergência”, afirmou Viana.

Segundo ele, o canal de atendimento à imprensa sempre foi a comunicacao social. “O que estava havendo era um canal informal dos jornalistas com os funcionários do órgão”, afirma.

Contagem de homicídios O site PEBodyCount, que faz uma contagem diária dos homicídios em Pernambuco, também divulgou notas criticando a medida da Secretaria de Defesa Social.

O site recebeu diversos prêmios de direitos humanos pelo trabalho na área de segurança pública.

Segundo o jornalista Carlos Eduardo Santos, um dos responsáveis pelo projeto, todos os dias o PEBodyCount faz diversas rondas para obter informações sobre homicídios no Estado, com ligações para hospitais, delegacias e outras instituições.

Segundo Santos, a proibição do contato com o Ciods dificulta a obtenção de informações principalmente sobre os homicídios na região metropolitana de Recife, onde ocorrem 50% dos assassinatos no Estado.

Santos explica que os homicídios no interior de Pernambuco são apurados pelas delegacias, mas na região metropolitana de Recife eles estão a cargo de uma força-tarefa policial.

Com isso, segundo o jornalista, as delegacias da grande Recife não contam com dados atualizados diariamente – a única instituição que reuniria essas informações de forma imediata seria o Ciods. “As delegacias deixaram de ser fonte de informação há dois anos, mas o Ciods era uma boa fonte”, ele diz.

Informações inexatas Os dados sobre homicídios podem ser encontrados no site da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.

Segundo o diretor do CIODS, a atualização ocorre diariamente às 16h.

Mas jornalistas afirmam que as informações consolidadas não são divulgadas imediatamente. “Fui informado que os dados consolidados sobre homicídios no fim de semana passado só seriam divulgados na terça-feira à tarde”, afirmou um jornalista.

Profissionais também apontam a necessidade de se poder checar os dados divulgados pelo governo.

A contagem feita pelo PEBodyCount, por exemplo, já chegou a diferir algumas vezes dos números oficiais do governo.

Uma delas foi no fim de semana passado, imediatamente depois que o contato com o Ciods foi impedido. “Outra vez, demos um balanço em um fim de semana com 56 homicídios e o governo confrontou quatro ou cinco deles.

Em um dos casos, o governo divulgou que teria ocorrido um atropelamento e não um homicídio.

Mas conseguimos provar, com o laudo médico, que o atropelado havia sido morto com três tiros”, conta Santos. “Sem acesso aos dados, como conseguiremos fazer esse tipo de controle social?”, questiona o jornalista.

O diretor do Ciods, Sérgio Viana, afirmou que a assessoria de comunicação colocou um plantão de 24 horas para a imprensa.

Segundo ele, o plantão ficará disponível até que seja possível colocar as informações online em uma intranet, que seria acessível aos jornalistas mediante autorização. “São dados que não podem se tornar públicos até que sejam confirmados”, justifica.

Mas o chefe de comunicação da Secretaria de Defesa Social, Joaquim Souza Neto, não confirmou a existência de um plantão para a imprensa.

Segundo ele, o secretário de Defesa Social iria analisar com o chefe do Ciods a possibilidade de colocar um profissional por turno para atendimento à imprensa.

Jornalistas consultados pelo LivreAcesso afirmaram que não tiveram acesso a um serviço de plantão.