Por Drauzio Varella, na Folha de São Paulo Que cidade o Rio de Janeiro!
Como pode chegar ao estado de guerra civil em que vive hoje? É inacreditável como aceitamos que nossa cidade-símbolo fosse empobrecida e humilhada, sem esboçarmos qualquer reação coletiva que não seja a de aplaudir invasões de favelas.
Quando falamos do Brasil no exterior, os estrangeiros dizem: “Oh!
Brazil, Pelé, café” e, invariavelmente, “Rio de Janeiro”.
O Cristo Redentor e o Pão de Açúcar são cartões postais tão reconhecidos como a Torre Eiffel, o Big Ben, o Coliseu ou as pirâmides do Egito.
Quantos milhões de dólares um país precisaria investir em publicidade para tornar uma de suas praias tão famosa como Copacabana ou Ipanema?
Não fosse a violência, doença contagiosa, haveria no mundo lugar com mais atrativos?
Que fortuna o país amealharia com a invasão dos que sonham em conhecê-la?
Não é possível que nada possa ser feito para retirá-la da situação em que se encontra. É vergonhoso saber que o tráfico arregimenta menores em regime de trabalho anterior à lei Áurea, por salários de setecentos reais sem que sejamos capazes de oferecer-lhes opção mais digna.
Qual a solução?
Não sei.
Mas, deve haver alguma; ou muitas, desde que exista vontade política.
Por exemplo, oferecer incentivos fiscais tão generosos quanto sejam necessários, para que empresas ávidas de mão-de-obra se interessem em montar unidades nas áreas pobres.
Criar programas federais, estaduais e municipais para investir em infra-estrutura e treinamento de pessoal.
Moralizar a polícia, mas dar atenção especial ao ensino, aos postos de saúde e, mais que tudo, levar o planejamento familiar aos mais pobres.
Porque, convenhamos, com esse número absurdo de adolescentes dando à luz filhos que não terão condições de educar, de onde virão os recursos para tantas escolas, hospitais, moradias e cadeias para os mal comportados?
Tenho consciência, leitor, de que o desabafo acima pode parecer quixotesco, mas não consigo me conformar que um país no qual o cidadão é obrigado a recolher impostos abusivos como o nosso, seja condenado a assistir passivamente à sua ex-capital cair nas garras da bandidagem.
Berlim, Hiroshima e outras cidades que os bombardeios transformaram em entulho foram reconstruídas em poucos anos.
Hoje é possível andar com segurança em ruas no passado perigosas como as de Nova York ou Chicago.
Por que não surge um programa ou sequer uma idéia decente para reduzir a violência urbana entre nós?
O Rio é nossa cidade mais conhecida.
Ela é como a bandeira brasileira, um símbolo ligado à identidade do país.
O drama que a aflige não é problema exclusivo dos cariocas, diz respeito a todos nós e exige mobilização nacional.