Por Marcos Pereira Por que a pressa em prender, violando inclusive garantias constitucionais?

Por que a execração pública de Miguel Sales, promovida pelo procurador-geral de Justiça, apenas porque o mesmo, cumprindo sua função de fiscal da lei, tentou resgatar a observância dessas garantias, entrando com um pedido de relaxamento da prisão dos irmãos kombeiros?

Parabéns ao eminente jurista, Dr.

José Paulo Cavalcanti Filho!

Felizmente, ainda há gente íntegra e imparcial neste País, onde fazer coro com os “Sinhôs” da vez e calar diante de suas arbitrariedades ainda é um recurso oportunista de largo uso.

A sua posição confirma nossa convicção de que travar a luta cidadã para por em prática o que existe nos papéis e nos discursos continua valendo à pena.

Infelizmente, a modernidade, a sabedoria e justiça refletidas em nossa Carta Magna, que deveriam de fato balizar as relações sociais, não se reflete na realidade da maioria do povo, que é previamente criminalizado por ser pobre.

O princípio da afirmação da inocência até prova em contrário é geralmente invertido quando se trata dos patriotas sem poder de compra.

Gente simples é feia, suspeita e perigosa; se fica andando por aí solta, constitui sempre uma ameaça aos herdeiros, candidatos, e amigos das aristocracias.

Por isso é melhor arranjar algum motivo para prendê-la.

Basta dar uma olhada sobre a população presidiária e as condições dos presídios do País para se inferir a eficiência dos aparatos policial e judiciário no trato com as “baixas” camadas sociais.

A exposição de motivos para mudar os rumos do chamado “Caso Serrambi” impressiona pela truculência do discurso manipulador e do tratamento dispensado ao promotor Miguel Sales, a quem tenho a honra de conhecer muito bem, pela própria Instituição a que pertence.

O propósito óbvio e grosseiro de manipular a opinião pública constata-se quando ao invés de se argumentar ou contra-argumentar em torno das lacunas e razões processuais apontadas por quem acompanha o caso há quase cinco anos, alega-se sua possível utilização política.

Ignorando-se as razões do Dr.

Miguel Sales, retirando-o do caso só agora e transferindo-o compulsoriamente para Camaragibe num ano eleitoral, não se estaria também se utilizando a Procuradoria Geral da nobre função para atender a outros propósitos políticos?

Quem é, que na verdade, estaria tentando tirar dividendos políticos sobre essa trágica situação?

Para ser coerente e contra os preconceitos, se deve investigar todos os personagens direta ou indiretamente relacionados ao Caso Serrambi e não apenas aqueles considerados mais fácil de prender.

Por que se abrir mão desse procedimento?

O Promotor Miguel Sales teve todos os seus requerimentos deferidos pela Justiça, o que demonstra ser o mesmo detentor de fundamentos e razões técnicas que não foram publicados em observância ao zelo e profissionalismo que tem pautado o procedimento do mesmo.

Na verdade, parece que uma coalizão política de interesses sócio-corporativos quer mesmo neutralizar o perigo de que em Ipojuca entre na disputa política alguém que durante o exercício de suas funções de promotor jamais se deixou domesticar pelos interesses mesquinhos e egoístas aqui predominantes.

Será que as juízas que deferiram os requerimentos são seus “cabos eleitorais” Por que será que só tantos anos depois é que o alto escalão do MPPE “descobriu” que Miguel Sales conduziu “erradamente” o caso?

Até quando as elites insistirão em considerar o povo apenas como uma massa manipulável?

Até quando prevalecerá a inversão do julgamento de valores, como forma de deixar intocável essas elites?

Até quando agressores serão preservados e vítimas condenadas?

Por que não se abre para o povo o que de fato ocorre nos bastidores do chamado Caso Serrambi, na verdade usado como pretexto para se atingir objetivos bem mais diversos?

O que uma administração municipal e um legislativo envolvido em crimes diversos sob investigação têm de interesse neste Caso Serrambi?

Exercitar a faculdade de pensar é livre e grátis; só custa tempo. É preciso descerrar a cortina de fumaça que paira em torno dessa discussão!

Marcos Pereira, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.