“Promotor prevaricou por cino anos”, diz Anibal Moura Desde que a investigação da morte das adolescentes Tarsila e Maria Eduarda saiu das mãos da Polícia Civil e passou para a Polícia Federal, o delegado Aníbal Moura parou de comentar o caso.
Ontem, quatro dias após a denúncia e prisão dos kombeiros, o delegado aceitou dar uma entrevista sobre os últimos acontecimentos.
Ao repórter Edurado Machado, Moura recordou todo o ocorrido e centrou fogo no promotor Miguel Sales.
JC – O senhor ficou sabendo que o promotor Miguel Sales cogita pedir aposentadoria porque foi afastado do caso pelo Ministério Público?
ANIBAL MOURA – Se esse irresponsável pedir aposentadoria, ganha o povo de Camaragibe, para onde ele iria ser transferido, e ganha o Ministério Público.
Ele prevaricou por cinco anos, criando na sociedade uma expectativa quixotesca de que sempre haveria algo a ser descoberto.
Investigamos duas vezes esse caso, a Polícia Federal mais duas e agora, o delegado Paulo Jean.
Todas as apurações chegaram ao mesmo lugar por um único motivo: foram esses kombeiros que mataram as meninas.
Só resolvi falar agora, porque a verdade foi restaurada com a denúncia e a prisão dos responsáveis pelo crime.
JC – O que o senhor achou do resultado da última investigação?
MOURA – Tanto essa investigação, quanto as realizadas pela PF trouxeram apenas alguns detalhes a mais.
Coisas naturais que surgem porque, com o passar do tempo, as pessoas vão perdendo o receio de falar e acabam contribuindo mais com a polícia.
No entanto, 99% do que está lá foi encontrado pela nossa investigação.
Quando fizemos uma coletiva e apresentamos os kombeiros pela primeira vez, eu falei nos papéis de bombom e no barbeador encontrados no veículo deles e no local do crime.
As pessoas desvincularam esses indícios do contexto e ridicularizaram as provas, como se elas fossem as únicas coisas que tivéssemos contra os acusados.
Há todo um contexto que leva aos dois como autores do crime.
JC – E por que o senhor acredita que o promotor não ofereceu denúncia desde o início?
MOURA – O promotor Miguel Sales viu uma oportunidade de se promover.
Ele aproveitou que havia um atrito entre eu e o procurador-geral, Francisco Sales, e manobrou a opinião pública para transformar esse caso em uma disputa entre o Ministério Público, que protegeria os pobres, e a polícia, que estaria a serviço dos ricos.
Só que agora ele acabou dando um tiro de 12 no pé.
Chegou ao absurdo de pedir a revogação da prisão dos kombeiros.
Assumiu de uma vez que é o advogado deles.
JC – Como esse caso repercutiu na sua carreira e na sua vida particular?
MOURA – Passei 14 anos no GOE e mandei centenas de criminosos para a cadeia.
Eu tinha um histórico que foi desconsiderado.
Passei a ser alvo de boatos divulgados pela internet, minhas filhas ficavam ouvindo piadinhas a meu respeito na faculdade.
Algumas pessoas do meu convívio se afastaram, não sei se por não acreditar em mim, mas pelo menos por duvidar de alguma coisa.
Fico feliz agora que, mesmo após quase cinco anos, nosso trabalho tenha sido ratificado.