Por Giovanni Sandes e Renato Lima Da editoria de Economia do JC O Brasil já está no cheque especial da energia elétrica.

A imagem foi usada, pela primeira vez, pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, e se encaixa bem no momento atual.

Tanto o País está com uma produção de energia abaixo da demanda, para poupar os reservatórios, quanto está utilizando fontes bem mais caras de energia, como térmicas a óleo.

Custo que vai pesar na tarifa dos consumidores. “Hoje estamos produzindo 51 mil MW médios e consumindo 53 mil MW médios.

Tem uma diferença de 2 mil MW médios.

Qualquer manutenção ou interrupção numa linha, vamos ter problema.

Pode ter apagão.

O sistema está operando no limite, no estresse.

Pode acontecer como na Argentina, faltar luz em um bairro e depois em um outro”, exemplifica o professor da UFRJ e diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE) Adriano Pires.

Essa situação teve origem, no curto prazo, pelo regime de chuvas abaixo da média histórica.

Como o parque de geração brasileiro é baseado, com cerca de 80%, na energia hidrelétrica, a baixa nos reservatórios influi diretamente na capacidade de geração.

A situação atual é de alerta.

O País está no meio do período úmido, que segue até março.

Caso comece a chover fortemente nas cabeceiras dos rios que abastecem o nosso sistema elétrico, a situação de risco pode ser revertida.

Caso contrário, o País caminha para um racionamento.

No Sudeste e Centro-Oeste, que enviam para o Nordeste um terço da energia consumida na Região, o nível dos reservatórios já está 0,5 ponto percentual abaixo do nível mínimo de segurança, a chamada Curva de Aversão ao Risco (CAR), com 44,8% de sua capacidade de armazenamento de água.

Neste ponto, a recomendação é acionar todas as fontes de geração de energia – inclusive as caríssimas e poluidoras usinas a óleo diesel. É o que está ocorrendo.

Uma opção ao não acionamento das térmicas seria um racionamento mais forte. “É um custo que vai pesar.

Mas não é apenas isso.

O reajuste também vai ser influenciado pelo aumento do IGP-M”, lembra Adriano Pires.

O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) é um dos itens que pesam nos reajustes das empresas de energia e fechou 2007 em 7,75%, contra 3,83% de 2006.

Neste momento, o crescimento econômico só faz piorar a situação.

Uma maior demanda faz a indústria produzir mais.

O aumento de renda leva os consumidores a comprarem mais produtos, incluindo eletrodomésticos.

O bom movimento faz o comércio trabalhar até mais tarde.

Tudo isso resulta em aumento no consumo de energia elétrica.

Para o diretor do Instituto Ilumina, José Antônio Feijó, os problemas começaram há mais tempo, ainda na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando houve privatizações no setor. “O governo esperava que a iniciativa privada investisse em expansão, o que não ocorreu, como vimos no racionamento de 2001.

Depois, o governo esperava a expansão com térmicas a gás natural, mais baratas.

Mas esqueceram de que precisava haver gás”, ironiza.

Para Feijó, o foco do problema é o modelo do setor elétrico, que transformou a energia em mercadoria, quando por 40 anos, até a década de 1990, era um serviço público. “Lula prometeu em campanha voltar ao modelo anterior.

Ocorre que o resultado foi um modelo híbrido, com retorno ao planejamento, mas filosofia de mercado.

Enquanto prevalecer essa filosofia, o Brasil está preso numa armadilha: sempre uma ameça de crise e preços maiores, porque se sobrar energia os preços caem”, avalia.