Por Gustavo Krause Frevo é… “Bom demais, bom demais”.

Frevo é… “Uma dança que nenhuma terra tem”.

E “quando o frevo começa parece que o mundo já vai se acabar”.

Assim, alguns, entre tantos poetas, descrevem o ritmo contagiante do frevo.

Por sua vez, o mestre Leonardo Silva, em prosa soberba, desenha a estética do espetáculo musical: “No bairro de São José, um clarim ecoa dentro da noite.

Seguem-se o rufar dos tambores, a cadência binária do surdo, os acordes dos metais e a marcação dos tubas. À medida que o cortejo se aproxima, sentimos a presença das palhetas (requinta, saxofone e clarinetas), como a responder um diálogo dos metais”.

Na descrição do autor, a imagem vai tomando corpo, cresce até atingir o que Mário de Andrade chamava de “vibração paroxística”: “De todas as partes aparece gente (…) A multidão vai se avolumando (…) É ‘Vassouras’ no Bairro de São José; o frevo tomando conta do mesmo Recife que o viu nascer, fazendo ferver as ruas que lhe serviram de berço ou como diria o homem do povo: - É Vassouras que vem frevendo”.

Curioso Pernambuco, este “Quixote” deitado no mapa do planeta, mais precisamente, nos cafundós do nordeste do Brasil: estado valoroso que se ergue vertical na rinha das revoluções libertárias e se faz singular, único, verdadeiro acrobata quando se trata da arte de dançar o frevo.

Curioso Pernambuco, pequeno estado brasileiro, dono de um ritmo que lhe personifica; um idioma musical que criou e toca para o mundo com tal mania de grandeza que se equipara às nações em matéria de patrimônio musical: a valsa austríaca, o fado português, o tango argentino, o rock americano, o frevo pernambucano.

A música e a dança são mais que centenárias; o nome apareceu pela primeira vez na imprensa em 09 de fevereiro de 1907.

Nos anos trinta do século XX, segundo Leonardo, “convencionou-se dividir o frevo em frevo-de-rua (quando puramente instrumental), frevo-canção (este derivado de ária tem uma introdução orquestral e andamento melódico, típico dos frevos-de-rua) e o frevo-de-bloco (…) executado por madeiras e cordas (pau e cordas, como são popularmente conhecidas)”.

Com efeito, estas variações do frevo, de grande assimilação e apelo popular, são, via de regra, refinadas composições musicais e obras de sensível talento poético que misturam lirismo, nostalgia e emoções arrebatadoras.

A lista de poetas e compositores da melhor estirpe é enorme e, para não passar em branco, tenho certeza de que farei justiça a todos se citar um nome: José Ursicino, o Maestro DUDA, considerado um dos maiores arranjadores do mundo (instrumentos de sopro), segundo universidade americana que estuda o assunto.

Ainda na década de trinta, o frevo foi exportado e deitou raízes na capital federal, então, o Rio de Janeiro, quando a colônia de pernambucanos fundou em 27 de novembro de 1934 o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Rio de Janeiro.

Na época, o prefeito da Cidade Maravilhosa era o pernambucano Pedro Ernesto do Rego Baptista, imortalizado por uma inovadora e marcante gestão.

Agora, vem de lá para cá a mais recente variação do frevo: o frevo drogado.

Isto mesmo.

E vem como samba-enredo da tradicional Mangueira: “100 anos de frevo, é de perder o sapato.

Recife mandou me chamar”.

Uma criação do compositor Francisco Paulo Testas Monteiro, Francisco do Pagode ou, para os mais íntimos, o “Tuchinha”, sobre quem pesa graves acusações de envolvimento com o tráfico de drogas.

O patrocínio é da Prefeitura da Cidade do Recife.

O preço módico da homenagem é de três milhões.

Dinheiro não é problema, problema, diz a sabedoria popular, é a falta dele.

Exatamente, a falta dele será o problema das agremiações carnavalescas do Recife.

Vão receber mixaria e transformar tostão em modestas lantejoulas.

No sambódromo, a grana preta vai virar pó.

PS: O Blog de Jamildo já solicitou à PCR uma resposta oficial para o artigo do ex-ministro Gustavo Krause, se achar que deve.

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