Por Margarida Azevedo, no JC de domingo Pernambuco tem cerca de 125 mil crianças e adolescentes, de 7 a 14 anos, fora da escola.

Significa que aproximadamente 15% da população dessa faixa etária (822 mil pessoas, segundo o IBGE) não estuda.

Alex Inácio da Silva, 14 anos, é um deles.

Desistiu de estudar na metade do ano passado, quando cursava a 5ª série na Escola Estadual Tito Pereira de Oliveira, em Camaragibe, no Grande Recife.

Para atrair Alex e outros sem-escola de volta ao colégio e conquistar quem está distante dos bancos escolares, a Secretaria Estadual de Educação vai ter bastante trabalho.

A baixa qualidade do ensino, a falta de professores e a precária estrutura física na maioria das unidades estaduais desestimulam os estudantes.

Não bastasse esse cenário desfavorável, um levantamento inédito feito pela secretaria mostra que somente no Grande Recife há necessidade de construir ou ampliar escolas em 16 localidades, com abertura de 20 mil vagas.

Um investimento de cerca de R$ 24 milhões, dinheiro que o governo irá buscar com a União e bancos internacionais.

Na capital pernambucana são 10 bairros sem atendimento ou com oferta insuficiente de escolas estaduais.

Um deles é a Bomba do Hemetério, na Zona Norte.

Lá há seis colégios, todos da rede municipal.

Como as unidades sob responsabilidade da Prefeitura do Recife oferecem turmas de educação infantil e 1ª à 4ª série, os jovens que ultrapassam essas séries têm que se deslocar para outros bairros.

O mesmo acontece no distrito de Vera Cruz, distante 10 quilômetros do Centro de Camaragibe, onde mora Alex.

Existe apenas uma escola municipal com turmas até a 4ª série no turno da manhã.

Em Olinda, a carência de escolas ocorre em São Benedito e em Águas Compridas.

Em Jaboatão dos Guararapes, a necessidade é de colégios na Vila João de Deus e no Sovaco da Cobra, enquanto em Ipojuca a expansão de vagas deve existir no distrito de Camela. “A escola mais perto, a Tito Pereira, fica a dois quilômetros de Vera Cruz.

Seria melhor que tivesse uma aqui no distrito.

Porque é caro pagar passagem.

A gente vai a pé ou de bicicleta.

Chega cansado para assistir às aulas”, afirma Gilda Mendes, 17, moradora do distrito de Camaragibe e aluna da 5ª série.

Apesar da distância da escola, ela tentou, quarta-feira passada, se matricular na unidade de ensino.

Não conseguiu vaga. “Só havia para o turno da noite.

Não posso porque é perigoso para eu ir sozinha”, lamenta a estudante, que por isso ficará sem estudar este ano.

A secretária-executiva de Educação, Margareth Zaponi, diz que levantamento semelhante ao realizado no Grande Recife está sendo concluído sobre o interior. “Pretendemos construir ou ampliar as vagas para atender os 16 bairros do Grande Recife.

O objetivo é que no próximo ano letivo, em 2009, essas crianças e adolescentes sejam atendidos.

O mesmo deve acontecer no interior”, destaca Margareth.

Para este ano, o Estado está oferecendo 370 mil novas vagas, sendo 170 mil na RMR e 200 mil no interior.

Já estudam nas escolas estaduais cerca de 950 mil alunos.

ANO LETIVO As aulas nas escolas do Estado começarão em um mês, no dia 11 de fevereiro.

Além do desafio de atrair novos alunos, o governo terá que melhorar o desempenho daqueles que já estudam na rede.

Os indicadores educacionais de Pernambuco são péssimos.

De cada cem estudantes do ensino fundamental, 28 abandonaram a escola em 2006, enquanto no ensino médio foram 23, segundo dados repassados pela Secretaria de Educação, a partir do Censo Escolar realizado pelo Ministério da Educação.

O percentual de reprovação foi de 17,26% da 5ª à 8ª série e 8,63% no ensino médio.

Chama a atenção o alto índice de distorção idade-série (quem está estudando na série diferente daquela adequada para sua faixa etária): 48,13% no ensino fundamental (5ª à 8ª) e 69,76% no ensino médio.

Mas fica difícil cobrar qualidade no ensino e sobretudo, aprendizado, quando se observa as condições em que os estudantes da Escola Estadual José Joaquim da Silva Filho, localizada em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, assistem às aulas.

Desde abril do ano passado, as atividades foram transferidas para um prédio em que antes funcionava um bingo.

A mudança aconteceu para que o colégio fosse reformado.

As salas são divididas por tapumes de madeira.

Como as obras ainda não terminaram, os estudantes terão que começar o novo ano letivo no mesmo espaço improvisado.

Apenas em outubro, de acordo com a Secretaria de Educação, o prédio ficará pronto.

Para os alunos da Escola Senador João Cleofas de Oliveira, também em Vitória, a espera será ainda maior.

O colégio começou a ser reformado no final do ano passado.

Em todo o Estado, conforme a secretaria, 409 colégios iniciarão o ano letivo em reforma ou com obras sendo executadas.

Como nenhum prédio foi encontrado para ser alugado em Vitória, o jeito foi transformar a quadra em salas de aula.

Em vez de aulas de educação física e jogos de futebol, o lugar abrigará bancas, mesas e quadros.

Divisórias de gesso vão demarcar o espaço.

Provisoriamente (se é que a palavra pode ser empregada nesse caso), os estudantes terão aula no local até janeiro do próximo ano. “É um absurdo.

Como sempre, quem se prejudica somos nós”, lamenta o estudante José Edson da Silva, 21, aluno de uma turma de Educação de Jovens e Adultos.