Da Folha de São Paulo de hoje Se esse mercado mais raro e egocêntrico é novo, o tráfico de arte sacra já tem história no país.

O caso mais rumoroso foi a recuperação de uma talha, uma espécie de biombo em madeira de 2,20 metros por 1,50 metro, talhado a mão em minúcias, que havia sido roubado de uma igreja em Nazaré da Mata, em Pernambuco, em 1995.

O vigia da capela foi morto para a retirada do objeto.

A talha foi redescoberta pela Polícia Federal depois de reproduzida num catálogo em referência aos 500 anos do Brasil, em 2003, sob o patrocínio da entidade Brasil Connect, um investimento mecênico mantido pelo grupo de Edemar Cid Ferreira.

Para se ter uma idéia, segundo a delegada Vanessa Souza, chefe do serviço de Difusões e de Procurados Internacionais, 80% das inclusões de obras brasileiras na lista dos itens procurados pela Interpol são classificados como arte sacra.

No balanço feito por Pontes, que estruturou no Brasil as delegacias de combate a crimes ambientais e ao patrimônio histórico entre 2001 e 2003, 60% do patrimônio sacro produzido em Minas Gerais já foi desviado para outros Estados.

O único caminho para a recuperação são a informação e a reserva da investigação, segundo os especialistas -além de reforçar os esquipamentos de segurança dos museus; o Masp, por exemplo, só depois do roubo decidiu instalar sensores.

Ainda assim, os índices de recuperação são baixos, isso em relação ao mercado negro comercializável, diferente do que lida com os objetos de desejo.

Em regra, quem participa de tais condutas responde pelos crimes de corrupção ativa e passiva, além de formação de quadrilha.

E, ainda que compre de boa-fé, responderá por receptação na modalidade culposa, que, conforme o artigo 180 do Código Penal, prevê penas de um a quatro anos de prisão, além de multa.

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) catalogou as obras tombadas.

Entre os bens culturais procurados, o total é de 898 itens, dos quais 857 são de obras religiosas.

Os que foram resgatados somam 35, ou seja, 3%.