Supostos PMs invadem prisão e matam filho de ex-prefeito Do JC de hoje Um crime ousado surpreendeu ontem os moradores da cidade de Exu, no Sertão pernambucano, a 606 quilômetros do Recife.

Durante a madrugada, quatro homens vestidos com a farda da Polícia Militar e encapuzados invadiram a cadeia pública da cidade e assassinaram com tiros de pistola e fuzil o fazendeiro Dário Peixoto de Alencar, 49 anos, que estava preso por porte ilegal de arma.

O detento fazia parte de uma das mais tradicionais famílias de Exu e era filho do ex-prefeito José Peixoto de Alencar, que administrou a cidade na década de 80.

Ele já havia sido alvo de dois atentados no ano passado.

Em uma das investidas, um funcionário do fazendeiro foi atingido e morreu.

O clima na cidade é tenso e o delegado de Exu, Romildo Jonas dos Santos, vai solicitar que uma equipe do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) assuma o comando das investigações.

A invasão ocorreu por volta das 3h30.

Os homens vestidos de policiais chegaram simulando que entregariam um suposto preso.

Um deles, o único que estava com o capuz levantado, se apresentou como tenente.

Quando o cabo da PM José Marcondes Alves da Silva abriu a grade, foi rendido pelo bando, com os outros dois PMs que faziam a guarda da cadeia.

Os policiais ficaram algemados e os assassinos foram até a sala onde ficam as armas e pegaram os fuzis da Polícia Militar.

Depois, seguiram para a cela onde o fazendeiro estava preso.

Ele estava sozinho e foi atingido por tiros de pistola e um tiro de fuzil na perna, que dilacerou a coxa.

O fazendeiro tinha sido detido no dia 24 de dezembro de 2007, após os policiais descobrirem armas e munições na fazenda da vítima.

O delegado afirmou que foram encontradas três cápsulas de pistola e nove cápsulas de fuzil 762. “Pelo estrago que foi feito, certamente ele foi morto pelo tiro de fuzil.

A vítima perdeu muito sangue”, explicou.

Nenhuma das armas dos policiais foi levada pelo bando.

Ontem à tarde, o delegado ouviu os três PMs que estavam de serviço.

Romildo dos Santos disse que ainda é cedo para afirmar se houve negligência ou facilitação por parte dos policiais, mas ele avaliou que “erros grosseiros” foram cometidos. “No mínimo, houve uma ingenuidade muito grande.

A ação foi feita de forma muito grosseira.

Eles chegaram de madrugada, encapuzados, um procedimento muito estranho”, afirmou o delegado.

Segundo ele, a cadeia pública só recebe presos de Exu, Granito e Bodocó e todos os policiais que trabalham nessas cidades são conhecidos. “Então chegam cinco homens que a pessoa nunca viu, num horário totalmente inusitado, era para desconfiar”, avaliou.

O delegado afirmou que a situação é delicada e que novas mortes podem ocorrer, se não houver uma resposta rápida das autoridades. “O caso é gravíssimo”, garantiu.

Ele descartou que a histórica briga entre as famílias Alencar e Sampaio, encerrada há vários anos, tenha motivado o crime. “Isso é muito improvável.

Agora não está descartada que o assassinato esteja relacionado com desavenças com outras famílias da cidade”, explicou.

O delegado disse que, no ano passado, quando o fazendeiro sofreu o atentado, ele chegou a acusar membros da família Urbano de terem sido os autores do crime.

A chefia de Polícia Civil determinou que, por enquanto, a Delegacia de Petrolina, na mesma região, acompanhe as investigações.