O processo de seleção para a residência médica nos hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Pernambuco, sob responsabilidade da secretaria estadual de Saúde, está sob suspeita e corre o risco de ser anulado.
Pelo menos em parte. É que ao menos uma das provas aplicadas neste domingo (6), no Recife, pelo Instituto de Apoio à Universidade de Pernambuco (IAUPE) teria apresentado nada menos que 19 questões já utilizadas em concursos anteriores organizados pela mesma entidade - 18 de uma seleção da Prefeitura do Cabo em 2006 e 1 da Prefeitura do Recife em 2007.
A denúncia foi levada ao conhecimento do presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), Carlos Vital, na tarde desta segunda (7) por uma comissão de cinco médicos que relizaram o concurso.
Mas um grupo bem maior, de pelo menos 30 candidatos, é esperado às 10h da manhã desta terça (8), na reitoria da UPE, em Santo Aamaro, para um ato de protesto pedindo a anulação do processo seletivo. “Nosso objetivo é conversar com os diretores do IAUPE e também iniciar um abaixo-assinado junto aos candidatos que se sentiram prejudicados”, disse o médico Sérgio Falcão Durão, 26 anos, integrante do grupo que fez a denúncia ao Cremepe.
Segundo ele, após o ato na sede da reitoria, a comissão terá uma outra reunião no Cremepe onde apresentará documentos para comprovar a denúncia. “Se houver comprovação, os direitos dos candidatos foram lesados e a UPE vai precisar se posicionar”, disse Carlos Vital.
Ele informou que o Sindicato dos Médicos de Pernambuco também terá representante na reunião desta terça.
E a OAB-PE pode ser chamada a colaborar.
A intenção dos candidatos à residência é levar o caso ao Ministério Público do Estado para que se entre na Justiça pela anulação do concurso.
IDÊNTICAS A prova de acesso direto (que não requer especialidades anteriores dos candidatos) aplicada neste domingo continha 100 questões, divididas em cinco partes de 20 quesitos, em função das cinco especialidades básicas: clínica médica, pediatria, ginecologia/ obstetrícia, cirurgia geral e medicina preventiva.
Deste total, segundo o médico Sérgio Durão, 19 eram idênticas a concursos anteriores já realizados pelo IAUPE, sendo que 15 constavam da parte de cirurgia geral. “Normalmente é esta especialidade que define os resultados porque é mais melindrosa e a média de acertos, em geral, é baixa”, explicou.
Segundo ele, até a ordem das questões era a mesma do processo seletivo realizado no Cabo de Santo Agostinho em 2006.
Para Durão, tão grave quanto a repetição de questões é o fato de que a informação sobre um eventual uso de material não-inédito vazou nos dias anteriores ao concurso.
Quem quisesse poderia ter consultado os exames aplicados no Cabo no próprio site do IAUPE.
Assim como pode conferir a prova para a residência nos hospitais do SUS. “Nunca vi tanta incompetência”, bateu Sérgio Durão.
O grupo G1 do concurso, que envolve os candidatos ao acesso direto, abriu 236 vagas em 16 especialidades.
A bolsa mensal paga aos residentes pela Secretaria de Saúde será de R$ 1.916,45.