Por Inaldo Sampaio Da editoria de Política do JC Recentemente, o ex-deputado federal e presidente nacional do PPS, Roberto Freire, numa entrevista de três páginas à revista IstoÉ, disse que a esquerda brasileira é “conservadora, e não é democrática na sua origem”.

Apesar da relevância histórica da declaração, partindo, como partiu, de um dos maiores expoentes da esquerda brasileira nos últimos 40 anos, ninguém se pronunciou a respeito dela, nem para condenar nem tampouco para concordar.

Freire chegou a declarar que o que houve em abril de 64 “foi uma disputa entre dois blocos que pensavam em regimes autoritários para ver quem dava o golpe primeiro”.

E logo depois rasgou o verbo: “Triunfou o bloco da direita”.

Para não dizer que a entrevista às páginas vermelhas da revista não passou em brancas nuvens, um leitor de Pernambuco de nome Ivanildo Porto enviou carta à revista censurando a fala do ex-deputado.

Disse o missivista: “O senhor Roberto Freire projetou-se na época romântica do comunismo brasileiro e em movimentos pós-estudantis de esquerda.

Mas hoje ele tem um discurso sinuoso, joga com as palavras e confunde mais do que explica. À frente de um modelo administrativo inconcebível para quem o acompanhou há 35 anos nas ladeiras de Olinda (quando Freire se candidatou a prefeito pelo MDB, foi o mais votado mas perdeu para a soma das sublegendas da Arena), ele destila seu rancor contra Lula com discursos semelhantes aos de Paulo Bornhausen (deputado federal do DEM de Santa Catarina) e Tasso Jereissati (PSDB-CE)”.

Talvez involuntariamente, Freire acabou fazendo coro com um dos maiores (senão o maior) ideólogo do movimento militar de abril de 64, Jarbas Passarinho, para quem, ao afastarem João Goulart da presidência da República, os militares não deram um “golpe de Estado” tal como a esquerda propagou nos últimos 40 anos e sim um “contragolpe preventivo” para impedir que ele instalasse no Brasil um regime socialista.

Aliás, em seu livro de memórias institulado Um híbrido fértil (Editora Expressão e Cultura, 3ª edição, capítulo XIV), Passarinho conta detalhes de como participou dentro dos quartéis e fora deles para mobilizar militares e civis a favor do “antigolpe” de 64.