A afirmação do presidente do PPS provocou um certo mal-estar em Pernambuco por parte dos políticos que ao lado dele combateram o regime militar.
Companheiro de Freire no velho MDB, o também ex-deputado e atual presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Fernando Lyra, reagiu às suas declarações. “Aprendi em 40 anos de vida pública que quando o político não tem o que dizer deverá ficar calado.
Gosto muito de Roberto, que militou conosco no MDB, mas não concordo em absoluto com as declarações dele.
Só posso atribuir isso à falta de rumo do PPS, que perdeu totalmente sua identidade e passou a agir politicamente em função das circunstâncias”.
Disse ainda o ex-ministro da Justiça que em 64 “não houve contragolpe coisa nenhuma e sim golpe militar, mesmo”, o qual, em sua opinião, “começou a ser articulado pelos tenentes em 1922”.
E acrescentou: “Eles passaram 40 anos conspirando e só sossegaram quando chegaram ao poder”.
Essa também era a tese do ex-governador Miguel Arraes, para quem a deposição do presidente João Goulart foi arquitetada pelos Estados Unidos, que não agiram isoladamente no contexto.
O Brasil fez parte de uma cadeia de regimes autoritários articulados pelos norte-americanos ao lado do Chile, Argentina, Uruguai e Equador, entre outros.
Só em Pernambuco, disse Arraes aos jornalistas Cristina Tavares e Fernando Mendonça, em Paris, em 1979, havia 14 vice-cônsules no Consulado dos Estados Unidos com a finalidade de vigiar de perto a sua pessoa e o seu governo, que tinha características de esquerda e era sustentado fundamentalmente por forças populares.
O deputado federal Sílvio Costa, presidente regional do PMN, disse não ter recebido com surpresa as declarações de Freire “que nunca foi um político de esquerda, embora tenha posado como tal”.
A verdadeira esquerda pernambucana, segundo Sílvio Costa, era Miguel Arraes, Gregório Bezerra, Francisco Julião, Pelópidas Silveira e outros políticos de menor expressão que foram presos em 64, depostos dos cargos, demitidos dos empregos, afastados das universidades, torturados, banidos e exilados. “Roberto Freire sempre foi um burguês metido a esquerdista mas de esquerda mesmo não tem nada.
Como é que um sujeito que se diz de esquerda é nomeado para o Incra sem concurso público em pleno regime militar?
Isso é o que ele precisa explicar aos pernambucanos”, conclui. (Inaldo Sampaio)