Por Nelson Motta, no www.sintoniafina.uol.com.br RIO DE JANEIRO - Quando estive pela primeira vez em Lisboa, em pleno salazarismo, todos pareciam velhos, andavam de preto e morriam de medo.
Mas o mais patético era a proibição de palavras estrangeiras, que produzia ridículos hilariantes, como um pub ser chamado de pabe.
Na Itália, até hoje, a herança mussolinista exige que os filmes sejam dublados em italiano.
Os de Woody Allen ficam tão absurdos quanto os de Spike Lee ou Cidade de Deus; falados em italiano: Dadinho; il cazzo, il mio nome; Zé Piccolo!.
A versão original legendada só passa em raros cinemas de arte.
Mas agora é tarde e o povo já se acostumou, mas os italianos alfabetizados estão perdendo boa parte do valor desses filmes.
As ditaduras, de esquerda e de direita, e o autoritarismo em geral, adoram proteger a pureza da língua pátria, para melhor nos defenderem das influências maléficas e das ameaças que o estrangeiro sempre representa.
Pela soberania e a união nacional, como diziam Franco e Stalin.
A ignorância também odeia as línguas que não o entende, inveja os que as falam, finge desprezá-los ao valorizar coisas como a sabedoria da vida real, a linguagem sem palavras, o idioma universal dos sentimentos e outras baboseiras.
Agora o Congresso vai votar uma lei do deputado comunista monoglota Aldo Rebelo que proíbe o uso público de palavras estrangeiras e pode nos levar, em plena era da globalização e da comunicação instantânea, a perdas irreparáveis na rica língua falada no Brasil, que tem a sua dinâmica própria e se transforma a cada dia.
Tem sido assim desde sempre, senão não teríamos o português que se fala (e alguns até escrevem muito bem) no Brasil moderno.
Se dependesse dos defensores da língua pura estaríamos falando tupi até hoje.