Por Edílson Silva O PSOL, na Câmara e no Senado, votou contra a prorrogação da CPMF.

E não o fez com os mesmos argumentos hipócritas do DEM ou PSDB.

Votou contra, sobretudo, por que os recursos oriundos da CPMF estavam sendo drenados, mesmo que indiretamente, para fazer superávit primário, para engordar ainda mais as elites detentoras de títulos públicos.

Coerente com esta posição, o PSOL também votou contra a DRU (Desvinculação das Receitas da União).

Nesta votação, a base aliada do governo uniu-se com a oposição eleitoreira de direita.

DEM e PSDB ajudaram assim a liberar o governo para usar como quiser parte dos recursos que tinham destinação certa para áreas sociais.

Em bom português: mais dinheiro para a elite da agiotagem oficial.

A CPMF não foi prorrogada, desidratando o orçamento de 2008 em aproximadamente R$ 40 bilhões.

Para compensar as perdas, o governo divulgou no último dia 02/01 medidas para tentar recompor os recursos perdidos.

R$ 10 bilhões serão alcançados através do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e da CSLL (Contribuição Social Sobre Lucro Líquido) do setor financeiro.

Outros R$ 20 bilhões virão de cortes em custeio e investimentos dos três poderes.

Os R$ 10 bilhões faltantes para fechar os R$ 40 bilhões virão, segundo o governo, do crescimento da arrecadação.

Com relação ao IOF, que incide sobre operações de crédito, o governo deixou isentas de aumento as operações mobiliárias, em que estão inseridos os títulos públicos, ou seja, mais alegria para a superelite.

Porém, quem “passeia” pelo cheque especial, prepare-se.

Com relação à CSLL, alguém tem dúvida que a conta será repassada para os correntistas dos bancos?

Quando do anúncio destas medidas, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que todos terão que apertar os cintos.

Nada mais mentiroso.

Quem está apertando os cintos, mais uma vez, são os servidores públicos, que já vêm arrochados há anos, e tudo indica que o povão em geral, pois os cortes em custeio e investimentos – que só serão detalhados após o carnaval, e que chegam a R$ 20 bilhões, podem tocar com profundidade em programas ligados à educação, saúde, reforma agrária, meio ambiente, etc.

Do camarote onde vivem, setores das elites, sempre sedentos por diminuição de carga tributária, atacam as medidas do governo.

O DEM e o PSDB, a oposição de mentirinha, que aprovou a DRU, dizem aos quatro ventos que foram traídos por Lula.

Ninguém, no entanto, dá um piu contra a hemorragia que representa o esforço do superávit primário e o absurdo pagamento de juros dos títulos públicos.

Trata-se do grande consenso entre as elites brasileiras e entre o governo Lula e sua oposição de direita.

Somente no primeiro mandato de Lula (2003/2006), o pagamento de juros para os detentores de títulos públicos alcançou a cifra indecente de R$587,9 bilhões, dos quais 80% foram parar no bolso de apenas 20 mil famílias.

Estes dados foram divulgados pelos economistas João Sicsu e Márcio Pochmann, ambos hoje no IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao próprio governo.

Pelo andar da carruagem, Lula pode fechar seus dois mandatos transferindo nada menos que algo em torno de R$ 1 trilhão para o maior programa de transferência de riqueza de seu governo: o bolsa-banqueiro.

A elite “industrial” e “produtiva” não abre a boca contra isso por que a fusão do capital industrial com o financeiro já vem de longe é um bom negócio para eles.

Que o diga Antônio Ermírio de Moraes, dono do Grupo Votorantin, do qual faz parte o Banco Votorantin.

Nesta polêmica que se instalou nestes primeiros dias do ano, o governo Lula não tem razão, pois, ao não mexer na lógica perversa da construção do superávit primário, mantém-se de joelhos diante do capital financeiro, em detrimento da melhoria das condições de vida da maioria da população, que está sendo penalizada mais uma vez.

A oposição de direita tem menos razão ainda, pois já estiveram no poder e faziam tanto quanto ou pior que Lula, com a mesma lógica concentradora de renda.

As elites descontentes também não têm razão, pois o caminho que eles apresentam é o aumento da concentração de renda, da catástrofe social.

Não querem pagar impostos e querem a manutenção da agiotagem oficial.

Querem ganhar de todos os lados.

Deveriam dar uma olhadinha nos países nórdicos para perceber a carga tributária por lá e a posição destes nos índices que medem competitividade econômica e qualidade de vida.

No terreno econômico, o maior problema do Brasil é a distribuição imoral de renda, que tem no Orçamento Geral da União um símbolo da concentração de riqueza e da covardia que fazem com nossa sociedade.

Sem enfrentar este problema, tudo é ilusão.

PS: Presidente do PSOL/PE, escreve às sextas para o Blog do Jamildo.