Por Edílson Silva E lá se foi 2007.
Ano difícil.
Que o diga o meu Santa Cruz, rebaixado para a terceira divisão.
A vida foi dura também para os corinthianos.
Apesar de ter um carinho muito grande pelo Palmeiras, confesso que a torcida do Corinthians merecia que seu time permanecesse na primeira divisão.
Mas, como em futebol o que vale é bola na rede, o jeito é aceitar o resultado e as regras, para todos.
Infelizmente em política não tem rebaixamento para os governantes, caso contrário Lula teria descido junto com o Corinthians, seu time do coração.
A exemplo do time do Parque São Jorge, Lula tem uma grande e apaixonada torcida, mas o seu futebol lembra um “rachão” daqueles pós-cachaçada.
Na equipe de cartolas de Lula sobram Dualibs, mas nem estes caíram em 2007.
Em geral o ano de 2007 prometia muito para a maioria dos brasileiros.
Era início do segundo mandato de Lula, com vários e importantes governadores sintonizados e na base aliada do governo federal. 2007 seria o ano do neo-desenvolvimentismo, da inflexão na política econômica, do PAC, etc.
Nada disso aconteceu além do papel e do discurso.
Um rápido exercício de resgate na memória, buscando uma retrospectiva do ano, nos traz com mais rapidez outros episódios e temas. Óbvio que cada olhar tem mais sensibilidade para um ou outro aspecto da conjuntura, mas creio que não é exagero afirmar que quatro temas se sobressaíram: apagão aéreo, Jogos Pan-americanos, Caso Renan Calheiros e Tropa de Elite.
Em menor medida tivemos o debate sobre a transposição do Rio São Francisco, colocada na pauta pelo jejum de Frei Luiz Cáppio.
O apagão aéreo, que teve seu ápice com a tragédia do vôo da TAM em Congonhas, mostrou com todas as letras a subserviência do Estado e do governo aos interesses dos empresários, deixando nua a relação promíscua existente entre as agências reguladoras e os empresários dos seus respectivos setores, que colocam seus lucros acima de tudo.
Exemplo desta irracionalidade também deram os “empresários” que colocaram soda cáustica na produção de laticínios que seriam consumidos por seres humanos, para aumentar o prazo da pseudo-validade dos seus produtos.
Os jogos Pan-americanos, que deveriam ser uma festa de confraternização através dos esportes, foi precedido de uma dura repressão ao povo carioca, que apelidou os jogos de “Pan-demônio” e o mascote Cauê de “Caô”.
Não bastasse a repressão à população, a corrupção, via superfaturamento, ficou patente.
As vaias ao Lula na abertura não foram por acaso, e estão em qualquer retrospectiva.
O caso Renan foi uma síntese quase perfeita da safadeza política que acontece em nosso país.
O círculo vicioso corrupção & impunidade foi transmitido ao vivo e a cores, abundantemente, para quem quis ver e ouvir.
Não tenho notícia de outro momento na política brasileira de tamanha desfaçatez, talvez pelos recursos tecnológicos disponíveis nos dias atuais.
Tudo foi feito com o apoio do governo Lula, que mirava desde sempre na aprovação da CPMF.
Bem feito para o governo, pois o castigo veio na primeira esquina.
O arrasa-quarteirão Tropa de Elite deu conta de radiografar a vida dura de quem vive nas periferias do nosso país, de uma juventude encurralada entre o narcotráfico e a fúria genocida de tropas militares especializadas em matar civis pobres e pretos, sem atacar em nenhum momento a fonte que abastece o narcotráfico e o comércio de armas.
Longe dos holofotes da grande mídia, 2007 também foi um ano difícil para quem luta em defesa do meio ambiente.
Avançou o processo de privatização da água no Brasil.
Empresas nacionais e multinacionais, como a Nestlé, sob a orientação do próprio governo federal, através do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) estão adquirindo terras por todo o Brasil, na realidade estão reunindo condições para explorar em larga escala a água do subsolo, para uso comercial.
Avançou também o processo de transferência da Floresta Amazônica para setores privados, em concessões que podem chegar a mais de 50 anos.
O rio São Francisco, que já não consegue se impor plenamente diante da força do mar, está para sofrer uma transfusão, via transposição.
Em terras pernambucanas, propaganda, muita propaganda do governo, contrastando com greves na saúde, na educação e rebeliões em presídios.
O número de homicídios continua colocando Pernambuco no topo dos mais violentos.
Infelizmente, a falta de transparência do governo, que não divulga os dados da segurança pública plenamente, impede um monitoramento científico da evolução do quadro de homicídios.
Contudo, com os dados disponíveis podemos verificar uma tendência de queda a partir de novembro de 2007 em relação a 2006.
Apostamos, sinceramente, que esta queda se confirme e possamos achar o caminho de uma redução desta catástrofe que vitima amplamente os pobres de nosso estado.
Pra não dizer que não falamos de Recife, cabe destaque para a desatenção do prefeito João Paulo às questões ambientais.
Burlou a Lei para garantir duas torres gêmeas de concreto em cursos d\água, próximo ao Cais de Santa Rita, e que estão prestes a serem implodidas por determinação judicial.
Iniciou a Via Mangue, que agredirá os manguezais existentes entre os bairros da Imbiribeira e Boa Viagem.
Está impondo aos moradores de Boa Viagem um parque de concreto ao invés de uma área verde, como reivindica a comunidade.
A recente história da humanidade tem nos mostrado que desenvolvimento em detrimento do respeito ao meio ambiente, aos ecossistemas, nos conduz à piora significativa de nossa qualidade de vida.
Não vale a pena.
Apesar deste quadro, o povo segue lutando e se rearticulando.
A aposta na luta popular e na organização da sociedade civil como forma de luta política avança com novos atores, desvinculados dos gabinetes governamentais.
A luta dos moradores de Boa Viagem contra o Parque Dona Lindu, assim como o jejum de Frei Luiz Cappio, são exemplos concretos.
Esperamos que em 2008, ano de eleições municipais, portanto num espaço em que a organização popular tem mais protagonismo, possamos pautar os problemas sociais sob a ótica da maioria do povo.
As grandes e estruturais transformações na sociedade, no comportamento social e na cultura, começam sempre na paróquia, nas cidades.
Por fim, como este é o último artigo do ano, desejo um bom reveillon para todos, com muita alegria e tranqüilidade.
Um bom 2008 também, com muita saúde e sabedoria. À equipe do blog do Jamildo, um especial abraço e que em 2008 este espaço continue sendo e aprofundando o que é: um dos veículos mais democráticos de comunicação da imprensa pernambucana.
PS: Edilson Silva é presidente do PSOL/PE e escreve às sextas para o blog do Jamildo.