A edição on line da revista Época traz uma longa entrevista com o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) em que as perguntas foram encaminhadas pelos leitores.

Nela, Gabeira concorda com o ponto de vista do filme Tropa de Elite, que identifica nos usuários parte da responsabilidade pela força do narcotráfico.

Ao mesmo tempo, o deputado defende a liberação do uso, desde que feita de maneira cautelosa, com uma polícia bem equipada e instituições prontas para enfrentar situações imprevistas.

Para ler e refletir.

Afinal, é a opinião de um sujeito que sempre esteve associado à esquerda, às mudanças de comportamento vividas pela sociedade nas últimas décadas e ao grupo de parlamentares que ainda insistem em acreditar em uma palavra chamada ética.

Veja.

O filme Tropa de Elite atribui parte da responsabilidade pelo caos do narcotráfico aos usuários.

O senhor concorda com isso?

Eduardo Gomes, São José dos Campos (SP) Gabeira – Sim.

Se você é contra a compra de produtos de empresas que destroem o meio ambiente ou usam trabalho escravo ou infantil, por que não ser contra a compra de produtos que contribuem com a violência?

Essa questão ética foi inicialmente levantada pelos próprios usuários.

No caso dos que usam maconha, houve até campanhas para que se plantasse em casa.

Lembro que a plantação em casa também é proibida.

Acho que parte da responsabilidade deveria ser estendida também aos adeptos da proibição, pois essa política contribui com a violência.

Quando não há uma autoridade externa para regular um comércio, os atores tendem a se matar.

Se alguém compra 10 quilos de droga e recebe apenas 8, não pode reclamar na polícia.

Se alguém quer um ponto-de-venda, não pergunta ao rival se ele tem alvará, mas o mata.

A liberação do uso de drogas, nos mesmos moldes do que acontece com o álcool, diminuiria a violência causada pelo tráfico?

Otto Simon da Silveira, Olinda (PE) Gabeira – Potencialmente, sim.

A experiência da liberação do álcool, depois da Lei Seca, contribuiu para reduzir a violência nos Estados Unidos.

No entanto, para que seja bem-sucedida, uma experiência de liberação pressupõe polícia bem equipada e capaz e instituições sociais capazes de abordar, rapidamente, conseqüências indesejadas e, às vezes, imprevistas.