Por Edílson Silva Frei Luiz, como é carinhosamente chamado pelos amigos o Bispo de Barra (BA), Dom Luiz Flávio Cappio, encerrou no dia de ontem, 20/12, seu jejum em defesa do Rio São Francisco.

A decisão do frei foi tomada após sérias complicações em seu quadro de saúde que o levaram a internamento na UTI do Hospital Memorial de Petrolina no dia 19/12.

Frei Luiz atendeu apelos de seus familiares e amigos mais próximos.

Nestes vinte e três dias de jejum de Frei Luiz, que do ponto de vista político era uma greve de fome, tive a honra e o privilégio de acompanhar um pouco mais de perto sua luta e também conhecer um pouco do homem que colocou seu gesto e sua causa na pauta política do país.

Delegado pelo PSOL para acompanhar esta luta, aprendi a admirá-lo.

Frei Luiz é um homem dedicado à vida e aos pobres.

Há mais de 30 anos convive com o Rio São Francisco e as populações ribeirinhas.

Para aqueles que lhe conhecem e a sua luta, seu jejum foi quase um gesto natural e absolutamente compreensível.

Para aqueles que não o conhecem e desconhecem sua luta, por ignorância ou interesse próprio, talvez ele possa até ser chamado de bispo suicida, ou alguém capaz de devorar melancias nas madrugadas durante o jejum.

O jejum de Frei Luiz tinha como meta material a paralisação das obras da transposição.

Contudo, o que ele sempre reivindicou do governo Lula foi o estabelecimento de um amplo debate com a sociedade sobre um verdadeiro projeto de convivência com a seca para as populações do semi-árido e também de revitalização do Rio São Francisco.

Então, o jejum de Frei Luiz foi vitorioso, pois sua luta garantiu por três semanas um debate nacional sobre a transposição, envolvendo vários segmentos da sociedade, várias personalidades, autoridades.

A mídia vendida, paga pelos anúncios das grandes corporações capitalistas e dos governos, não pôde ignorar o gesto de Frei Luiz. É inegável que após o jejum a luta em defesa do Rio São Francisco está em outro patamar.

O governo, para suportar o debate público, teve que ampliar as mentiras em torno do seu projeto.

Subiu num palanque é agiu como em campanha eleitoral, fazendo as costumeiras promessas.

A partir de agora, os setores envolvidos nesta luta estão compromissados em manter as batalhas contra este projeto.

Várias ações judiciais estão em andamento.

Várias ações políticas, com base nas informações oficiais sobre projetos alternativos para o semi-árido e para a revitalização do Velho Chico estão na pauta.

A fiscalização das obras, sobre as quais pesam suspeitas de que seria um grande esquema de arrecadação de recursos, também está na pauta.

Na missa que aconteceu em Sobradinho no dia 20/12, em que Frei Luiz informou sua decisão de cessar o seu jejum, uma outra vitória foi destacada.

O jejum mostrou para muita gente quem está realmente do lado do povo e quem está do outro lado, junto com os poderosos e com as elites.

Um recado certeiro para Lula, seu governo e seu partido, o PT.

Mas o jejum de Frei Luiz nos deixou ainda mais saldos positivos.

Seu gesto foi pedagógico, em todos os sentidos.

Em tempos de movimentos sociais vendidos ao governo e controlados pelos partidos da base do governo, como PT e PC do B, a atitude de Frei Luiz recoloca na ordem do dia a mobilização popular como instrumento fundamental na luta política do nosso país.

A sociedade civil, os trabalhadores, os pobres, as classes médias, podem e devem organizar-se em defesa de suas demandas, pois o quadro da democracia representativa está dominado por interesses estranhos aos da maioria da população.

O ano de 2007 termina com este bom exemplo de amor à vida patrocinado por Frei Luiz.

Seu gesto foi incompreendido por muitos, é verdade, pois escapa do individualismo, da concorrência predatória, da competição covarde, da falta de solidariedade, elementos tão caros para o bom funcionamento do sistema que lamentavelmente ainda preside nossa sociedade.

Para não fugir do script de final de ano, desejamos, em nome do PSOL, muita saúde para Frei Luiz no ano que se inicia daqui a alguns dias.

Precisaremos de sua força e autoridade moral e política para seguirmos ainda mais firmes na luta em defesa da dignidade do povo nordestino.

Para os leitores do blog, sobretudo àqueles que nos acompanham, elogiando, criticando, nos mandando passagens para Cuba e Venezuela, sem volta, desejamos muita saúde, paz, sabedoria e a busca honesta de uma síntese capaz de revelar o caminho para uma sociedade verdadeiramente justa e democrática, com socialismo e liberdade.

PS: Edilson Silva é presidente do PSOL/PE e escreve às sextas para o Blog do Jamildo.