Da Agência Estado O depoimento do deputado Paulo Rocha (PT-PA) na 10ª Vara da Justiça Federal, no inquérito do mensalão, foi marcado por discussões entre o réu, a juíza Maria de Fátima e advogados.
Ao constatar a má vontade do deputado em responder ao interrogatório do procurador, a juíza perdeu a paciência. “O senhor me respeite.
Quem manda aqui sou eu.
Aqui não é a Câmara dos Deputados.
O senhor não vai bagunçar a audiência com essa postura de humildezinho porque é do Pará ou sei lá de onde.
O senhor fique quieto e responda às perguntas.” Dirigindo-se ao advogado de Paulo Rocha, a juíza disse: “E o senhor fique quieto e não responda às perguntas por ele”.
Paulo Rocha vinha respondendo às perguntas de forma irônica e lacônica.
Ao ser questionado sobre a origem dos R$ 900 mil que recebeu do empresário Marcos Valério, ele respondeu: “Não sei, não tive curiosidade”.
Paulo Rocha é acusado de ter recebido R$ 900 mil de Marcos Valério.
Ele alegou que o dinheiro foi destinado ao pagamento de dívidas do PT no Pará, contraídas durante a campanha eleitoral de 2002.
Após a reprimenda da juíza, ele pediu desculpas, disse que estava nervoso, lembrou sua condição de deputado e justificou que não estava numa situação confortável ao estar sendo chamado de réu. “Aqui o senhor não é deputado, não é deputado.
Aqui o senhor é réu, denunciado”, rebateu a juíza orientando o procurador a “fazer a pergunta que quiser”.
COSTA NETO Quem também depôs nesta terça, no inquérito do mensalão, foi o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), acusado de ter pertencido ao núcleo do esquema quando era presidente nacional do PL (extinto).
Ele negou, na 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, que o esquema tenha existido e que o antigo partido tenha recebido R$ 10 milhões do PT por intermédio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Costa Neto renunciou ao mandato para evitar a cassação e se reelegeu em 2002 à Câmara.
O MPF acusa-o de corrupção, formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro. “Nunca eu ou deputados do PL votamos, no governo Lula, nenhuma matéria em troca de dinheiro”, declarou.
Costa Neto admitiu, porém, que houve um acordo político, no contexto da aliança entre os dois partidos, que levou à indicação do candidato a vice-presidente na chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - José Alencar - na campanha presidencial de 2002.
O deputado afirmou que, para cumprir esse entendimento político, o então secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares, propôs ao PL a formação de um caixa único de campanha para repassar à legenda R$ 10 milhões, valor correspondente à expectativa de arrecadação, que era de R$ 40 milhões.
Mas, segundo Costa Neto, quando começou a campanha, Delúbio disse que não havia recursos e sugeriu que ele obtivesse empréstimos.
Costa Neto disse que só conseguiu R$ 5 milhões de empréstimo - com o empresário e doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que foi dono da empresa Garanhuns e a quem ele qualificou de “um agiota” de São Paulo - e a garantia do então secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT de que pagaria, o que, de acordo com ele, não aconteceu.
JUROS Como “agiota”, Funaro cobrava, segundo o deputado do PR, juros de 3% ao mês.
A dívida cresceu e Costa Neto só pôde pagá-la muito depois, parceladamente, quando Delúbio, ao fim de 2003, conseguiu que Marcos Valério autorizasse a agência de publicidade SMP&B Comunicação a pagar as parcelas da operação.
O deputado negou que o valor repassado tenha chegado a R$ 10,8 milhões, como diz a denúncia do MPF ao STF, e afirmou que o total foi de R$ 7,4 milhões - exatamente o valor do débito com o empresário e doleiro - e que só terminou de pagar em meados de 2005.