O ex-vocalista da banda cubana Los Galanes, Miguel Angel Costafreda, disse nesta segunda (17) que não vê a hora de receber o visto provisório para, junto com os outros dois companheiros refugiados no Recife, poder trabalhar fazendo o que mais gosta: música cubana tradicional e popular, identificada como “O Som” em seu País.
Na verdade, em Cuba, “O Som” é visto como anti-revolucionário porque remete aos grandes músicos que deixaram a ilha, fugindo da revolução de 1959.
Como Célia Cruz, por exemplo.
Muitas músicas não podem ser executadas e até alguns instrumentos, como a tradicional “guitarra tres”, já foram alvo de perseguição.
Segundo Costafreda, a “guitarra tres”, assim chamada por possuir três pares de cordas, desempenha dentro da harmonia da música cubana um papel semelhante ao do piano.
E por ter sido muito popular nas grandes bandas do País anteriores à revolução, foi proibida durante um período por um decreto do governo, hoje já revogado.
Ao mesmo tempo, há uma orientação para se privilegiar canções que louvem a revolução e seus heróis. “É quase impossível fazer a música que queremos.
Tudo é censurado, limitado”, disse o vocalista que, além de integrar o Los Galanes, tinha uma outra banda de música tradicional com a qual conseguiu gravar dois discos.
Costafreda explicou que, em Cuba, havia poucos shows a fazer.
E que para se manter em Havana tinha de lutar muito em várias atividades (não chegou a especificar). “A comida é pouca, falta tudo”, afirmou.
Ele contou que os três refugiados no Recife já saíram de Cuba, no início do mês, com a intenção de não mais voltar ao País.
Preveniram suas famílias e conversaram com os demais integrantes da banda (Armando Benítez, Ricardo Jorge Peña e Raúl Marino Sánchez), mas estes preferiram não desertar.
De qualquer modo, ainda de acordo com Costafreda, não havia um plano.
A oportunidade apareceu quando foram visitados no camarim do bar Cuba do Capibaribe, no bairro do Recife, pelo casal de professores de dança Gledson Silva e Edwis Torres.
Foi o casal que acolheu o trio, enquanto os artistas estiveram escondidos.
O grupo também ficou encantado com a acolhida do público nos seis shows que fez no Estado. “Na América, não há povos que sejam tão parecidos (como o brasileiro e o cubano)”, disse o violonista Arodis Pompa, explicando que, se era para desertar, que fosse no Brasil. “Não quero saber de Miami”, disse o vocalista Costafreda que, ao lado dos dois violonistas que o acompanham, gostaria de montar uma nova banda também com músicos brasileiros.
Admirador de música brasileira, é fã de Djavan, Gal Costa e, especialmente, Roberto Carlos, de quem cantou um trecho de “Emoções”, durante a entrevista.
Se conseguirem o visto provisório e depois o permanente, os músicos ainda terão de enfrentar uma outra grande batalha: trazer as famílias ao Brasil.
O único contato que tiveram com os familiares desde que pisaram em solo brasileiro, no último dia 4, foi por telefone, para avisar que haviam chegado.
Aos 40 anos, Costafreda morava em Havana com a mãe, a esposa e uma sobrinha de oito anos.
Aos 42, Juan Diaz também é casado e tem dois filhos de 7 e 11 anos.
Arodis Pompa tem 36 anos, uma filha de 15 do primeiro casamento, e é casado pela segunda vez.
Voltar a Cuba, para eles, seria repetir o destino dos pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que desertaram durante o Pan do Rio, em julho.
Os dois foram afastados do box, lembrou Costafreda.