A Tarde On Line Depois de mais de uma hora de audiência no Palácio do Planalto, os líderes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ouviram do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que as obras de transposição do Rio São Francisco não serão interrompidas, apesar da greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio.
Ao saber do resultado do encontro, dom Cappio disse temer que a nação “chegue à beira de uma ditadura”.
Enquanto o governo mantém a posição de seguir com o projeto, sem retirar o Exército dos eixos Norte e Leste do Rio São Francisco, e recorrer da liminar do Tribunal Regional Federal (TRF), que manda suspender as obras, o bispo de Barra ratifica a intenção de manter a greve de fome, que já entra no 17º dia nesta quinta-feira, 13.
O objetivo do religioso é o arquivamento do projeto.
O governo, contudo, se dispôs apenas a receber sugestões de mudanças que apenas visem aperfeiçoá-lo. “Esse é só o início do diálogo entre o governo e dom Cappio”, minimizou dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB. “Isso realmente nos preocupa, não em relação à minha pessoa, mas ao Estado de Direito do Brasil”, afirmou dom Cappio.
Para ele, o descumprimento da liminar caracteriza “total desprezo ao Judiciário”, o que pode significar um caminho aberto para a ditadura militar.
Mas, “se esse gesto (jejum) teve a capacidade de mostrar a quantas anda a democracia no Brasil, então só por isso já valeu”.
Exposição – Na reunião, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) fez longa exposição sobre as questões técnicas do projeto, que preferiu chamar de “integração de bacias”.
O presidente da CNBB, que estava acompanhado do secretário-geral da entidade, Dimas Lara Barbosa, manifestou a preocupação com a vida de dom Cappio e ressaltou que “há alternativas apresentadas até por órgãos ligados ao governo e por movimentos sociais”. “Pedimos ao presidente que estudasse a fundo esses projetos e não se resumisse à transposição”, disse.
A CNBB manteve sua posição de mediadora do diálogo entre o Palácio do Planalto e dom Cappio, torcendo para que o debate seja ampliado.
Sem agenda concreta e nenhum acordo, apenas uma lista de intenções, a entidade espera, pelo menos, que uma comissão seja nomeada para reavaliar o projeto de transposição atual.
Internamente, a CNBB não tem consenso sobre a transposição. “O governo se diz interessado em encontrar saídas para o impasse.
Mas, além da atitude da igreja, deve ser respondida também por uma atitude do governo”, disse dom Geraldo Rocha, lembrando que não impôs qualquer condição para dialogar.
Dom Barbosa sugeriu a Lula que explicasse melhor à sociedade sobre o projeto da transposição, diante do desconhecimento geral.
Ele disse que centenas de pessoas ligadas a movimentos sociais foram recebidas por ele nos últimos dias, todas contrárias ao projeto.
Sobre a natureza do protesto, o presidente da CNBB disse que não há um consenso na igreja se ele é ou não aceitável do ponto de vista dogmático.
O Vaticano também não se manifestou oficialmente.