O líder do governo na Assembléia Legislativa, deputado Isaltino Nascimento (PT), ocupou a tribuna nesta terça (11) para defender o índio xucuru José Agnaldo de Souza, 39 anos, que é vereador do partido em Pesqueira, a 200 km do Recife, e foi preso de manhã pela Polícia Federal.

O vereador é acusado de ser mandante do assasinato de um outro índio xucuru, José Lindomar Silva, 37, morto em 12 de agosto passado. “Isto é uma criminalização da população indígena”, disse o deputado, que repudiou a ação da Polícia Federal e a decisão da justiça. “Ele é uma liderança importante na comunidade.

Sem dúvida há interesses contrariados e querem imputar o crime a ele”.

Além de vereador, Souza é professor e coordenador da área de educação do povo xucuru. “É uma pessoa tranqüila, tem endereço certo e um mandato.

Não tem que prender”, disse Isaltino.

VERSÕES De fato, o assasinato de José Lindomar Silva já está merecendo uma atenção maior por parte da imprensa e dos poderes do Estado, diante dos muito detalhes ainda não esclarecidos.

O índio foi morto a bala quando voltava, numa moto, de uma festa no Sítio Couro Dantas, na região.

A única testemunha do assasinato é seu irmão, José Orlando Santana da Silva, que também foi baleado, mas conseguiu escapar.

José Orlando teria apresentado várias versões para o crime, mudando inclusive o número de pessoas que identificou como executores do assassinato.

Com base em suas informações, está preso, além do vereador José Agnaldo de Souza, uma outra liderança xucuru: Rinaldo Feitosa, detido desde outubro no presídio de Caruaru.

Feitosa é conhecido por sua postura pacífica entre seu povo.

O irmão do índio assassinado também acusou o músico Alessandro Oliveira, já liberado, e um quarto xucuru, José Edilson, conhecido como Besouro, que tem ficha na polícia e está foragido.

Fontes ligadas ao cacique Marcos Luídson (Marquinhos) acreditam que José Orlando aproveitou o assassinato do irmão para investir contra lideranças respeitadas pelos xucurus.

EXPULSÃO José Orlando faz parte de um pequeno grupo de xucurus que foi expulso em 2003 da área da tribo, depois de um atentado contra o cacique Marquinhos, no qual foram mortos dois índios.

O grupo também era favorável à existência de um santuário construído na reserva xucuru pela Igreja Católica sem o consentimento do cacique.

A área indígena de Pesqueira compreende 27.550 hectares de terras e 24 aldeias, onde vivem cerca de 10 mil xucurus.

A devolução das terras aos índios ainda não foi concluída, mas cerca de 90% já foram deixadas pelos fazendeiros. É regra, na reserva, viver e usufruir o espaço coletivamente, desenvolvendo a agricultura, por exemplo.

Daí o cacique ser contrário à exploração das terras para o turismo religioso.

Marquinhos é filho do cacique anterior, Francisco de Assis Araújo, o Chicão, assassinado há nove anos a mando de fazendeiros locais.

Chicão integrava a comissão coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo e liderava a luta pela demarcação das terras indígenas em Pernambuco.