O senador Romero Jucá, líder de Lula no Senado, diz que o consórcio governista está pronto para votar a emenda da CPMF na próxima quinta-feira (6).
Trata-se de um blefe.
Reunido nesta segunda-feira (3) com os ministros que integram a coordenação política do governo, Lula recebeu de José Múcio (foto), seu articulador político, uma informação desalentadora.
A despeito do mundo e dos fundos que move para obter os 49 votos de que precisa para aprovar a CPMF, o Planalto ainda não logrou atingir o seu objetivo.
De acordo com a análise feita pelo ministro Múcio ao chefe, se levasse a emenda a voto imediatamente, o governo flertaria com o risco da derrota.
Curiosamente, apesar de toda a artilharia palaciana, a oposição ainda acalenta a perspectiva do triunfo.
Conforme noticiado aqui, Tião Viana confirmou que o presidente do Senado, pelo regimento, está impedido de votar na CPMF.
Assim, cai de 33 para 32 o número de votos que a oposição precisa registrar no painel eletrônico para impedir que o governo atinja a fatídica marca dos 49.
No gogó, a oposição dispõe de pelo menos 34 votos –14 do DEM, 13 do PSDB, um do PSOL e seis da dissidência aberta na tropa governista.
Nesta segunda, um dos dissidentes, Geraldo Mesquita (PMDB-AC), foi à tribuna para reiterar que dirá “não” à CPMF.
A menos que Lula concorde em condicionar a vigência do tributo a um referendo popular.
Algo que não vai acontecer.
Expedito Júnior (PR-RO), outro dissidente governista, foi ao TCU acompanhado por uma caravana que incluía três dos principais rivais do governo: o ‘demo’ José Agripino Maia e os tucanos Sérgio Guerra e Arthur Virgílio.
Expedito elegeu a oposição como aliada para resolveu uma pendência que considera vital.
Envolve o Beron (Banco do Estado de Rondônia).
Trata-se, em resumo, do seguinte: submetido a uma intervenção do Banco Central que se arrastou por três anos, o Beron viu o seu passivo saltar de R$ 90 milhões para R$ 500 milhões.
O rombo foi enganchado na dívida do Estado.
Em associação com o governador Ivo Cassol, que também esteve no TCU, Expedito reivindica que o débito seja retirado de cima dos ombros do Tesouro estadual.
Na próxima quarta-feira (5), o plenário do tribunal de contas deve aprovar um acórdão que ajudará a afrouxar o nó de Rondônia.
O texto corrobora as pretensões do governo de Rondônia.
Para desatar a encrenca por completo, DEM e PSDB comprometeram-se a ajudar a aprovar no Senado um projeto de decreto legislativo que atenderá às reivindicações de Expedito e do governador Cassol.
No curso da visita ao TCU, Expedito disse que vem recebendo assédio incessante do Planalto.
Disse que resistirá às investidas.
Ivo Cassol revelou ter sido procurado por José Múcio.
O coordenador político de Lula pediu-lhe que ajudasse a fazer a cabeça de Expedito.
O governador disse ter dado de ombros: “Perdi a força sobre o senador”, teria desconversado.
De resto, o neo-oposicionista Expedito contou aos colegas que o acompanharam na visita ao TCU que, no esforço para seduzi-lo, José Múcio lhe disse que o governo disporia de votos no PSDB.
O tucano Arthur Virgílio deu um salto: “Vão quebrar a cara.
Na minha bancada não vão ter um voto.” César Borges (PR-BA), outro dissidente que o Planalto tenta cooptar, repetiu a um integrante da cúpula do DEM, nesta segunda, que mantém a decisão de votar contra o imposto do cheque.
Romeu Tuma (PTB-SP), mais um governista sublevado, relatou a colegas de Senado uma conversa que mantivera com o cardiologista Adib Jatene, pai da CPMF.
Tuma disse ao ex-ministro de FHC, segundo seu próprio relato, que só toparia renovar o imposto do cheque até 2011 se Lula se comprometesse a investir a integralidade dos R$ 40 bilhões na área da saúde.
Coisa que o governo não se dispõe a fazer.
Em meio à torrente de boas novas, a direção do DEM recebeu uma outra informação que considerou alvissareira: em visita à Fiesp, nesta segunda, o senador Jonas Pinheiro (DEM-MT), incluído na lista do Planalto como “cooptável”, teria assegurado a dois representantes do baronato da indústria paulista que não ousará dissentir de seu partido.
Jurou que vai votar contra a CPMF.
Se ninguém estiver mentindo, a oposição estaria a um passo de impor ao governo uma derrota histórica.
Animado, Agripino Maia quer ir ao voto.
Desconfiados, Arthur Virgílio e Sérgio Guerra ainda contemplam a hipótese de postergar o confronto.
Avaliam que, munido de verbas e cargos, o Planalto ainda pode reconverter senadores do bloco anti-CPMF.
Vem daí que, conforme o previsto, Virgílio e Agripino reuniram-se com o ‘demo’ Marco Maciel (PE), presidente da comissão de Justiça.
Obtiveram dele a promessa de ganhar tempo, se for necessário.
Entre uma confirmação de voto e outra, coube ao PSDB protagonizar o episódio mais inusitado do dia.
Da reunião no TCU, Sérgio Guerra e Arthur Virgílio foram direto para o aeroporto.
Atendendo a um chamado de Aécio Neves, voaram para Belo Horizonte.
Ali, reuniram-se até de madrugada com o anfitrião Aécio e com José Serra, dois tucanos que, favoráveis à CPMF, tentam fazer a cabeça da bancada tucana Do blog de Josias de Souza