Ambientalista alerta que obra semelhante à prevista no rio São Francisco foi feita sem sucesso no Colorado (EUA) Por REGINA WERNECK, no jornal O Tempo, de Belo Horizonte As discussões em torno do projeto de transposição do rio São Franscisco estão intensificadas depois que o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, voltou a fazer greve de fome em protesto contra a obra.
O presidente do Comitê da Bacia do Rio São Franscico, Thomaz Mata Machado, que esteve até ontem em Maceió (Alagoas) acompanhando os debates na região, alertou que o projeto é antigo e por isso não abrange a preocupação com o meio ambiente. “O projeto é ultrapassado.
O modelo proposto não resolveria o problema da seca como o governo federal espera.
E é muito parecido com o foi feito no rio do Colorado (EUA), que hoje está morto.
Existem estudos mais precisos e alguns já estão sendo colocados em prática, como é caso do Atlas do Nordeste”, explicou Machado.
Ele contou que cerca de 80% do problema com falta de água no Ceará está resolvido. “Lá no Ceará já foi desenvolvido um trabalho de engenharia fantástico e não existe tanto problema com falta de água”.
O presidente do comitê cita ainda o Rio Grande do Norte, que implantou medidas alternativas e eficientes. “Eu vi culturas, como de frutas, com tanta qualidade, que são exportadas para a Europa.
Então o projeto de transposição não faz sentido, se existem outros métodos e alternativas.
Talvez o rio São Francisco nem sobreviva à transposição.
Uma revitalização seria muito mais útil e importante para todas as regiões banhadas pelo rio”, afirma.
Ele revelou que o comitê está muito preocupado com a greve de fome do bispo. “Nós não queríamos que chegasse a essa situação.
O que queremos é um diálogo, porque existem muitas pesquisas sobre o assunto, mas ainda não conseguimos ser ouvidos”, disse Machado. “O bispo Cappio conhece muito o tema e está preocupado com a transposição.
Mas queremos o diálogo para acabar com o conflito e, não, a troca de uma situação por outra (revitalização pela transposição), como o governo acha”.
O Comitê da Bacia do Rio São Francisco entrou com um processo administrativo em 2004 para impedir o andamento das obras de transposição.
O projeto data da época de 1847, quando dom Pedro II era o imperador do Brasil.
O monarca chegou a dizer que empenharia as jóias reais para a acabar com a seca nordestina, mas a idéia não foi adiante.
O presidente Getúlio Vargas, em 1943, chegou a levantar a questão também, mas somente nos anos de ditadura no país é que a transposição chegou nos moldes que até hoje é discutida.
Naquela época, o projeto foi assinado pelo então ministro Mário Andreazza, que também criou a proposta da transamazônica.
Depois disso, os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso chegaram a pensar no assunto, mas somente agora, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é que o projeto ganhou corpo e avançou.
Greve de fome Fontes ligadas ao bispo, pela segunda vez em greve de fome para impedir a realização do projeto, contaram que ele está bem, apesar do forte calor no município de Sobradinho.
O bispo, que só bebe água, é acompanhado por amigos e ontem um médico tentou fazer um exame clínico, mas o religioso recusou afirmando que estava se sentindo muito bem.