Por Edílson Silva No último dia 25 de novembro o Diretório Nacional do PSOL reuniu-se na capital de São Paulo.
Na pauta, dentre outros pontos, a posição do partido sobre o plebiscito que acontecerá no próximo dia 2 de dezembro na Venezuela.
O fato deste tema estar na pauta do PSOL revela a sincronia e o compromisso deste partido com as lutas populares na arena internacional.
Revelando ainda mais compromisso, o Diretório Nacional aprovou resolução dando apoio ao SIM às reformas propostas pelo governo venezuelano.
O apoio do PSOL sustenta-se no fato de que as propostas de reformas constitucionais apresentadas aprofundam o progressivo processo revolucionário por qual passa a Venezuela.
No plebiscito os venezuelanos poderão dizer sim ou não aos latifúndios; sim ou não aos monopólios; sim ou não à autonomia do Banco Central; sim ou não ao direito de voto a partir dos 16 anos; sim ou não à diminuição da jornada semanal de trabalho de 40 para 36 horas; sim ou não ao reconhecimento dos Conselhos Populares como parte do Poder Público; sim ou não a dar à Venezuela o caráter de Estado Socialista; sim ou não à reeleição ilimitada ao Presidente da República.
São, em sua essência, medidas ousadas e que acenam para o aprofundamento da democracia naquele país.
Democracia não só no plano político, mas também no terreno econômico.
Quem, com um mínimo de sensatez, é favorável a latifúndios e monopólios?
Qual governo com compromisso social pode defender que o Banco Central seja autônomo para estar ao sabor dos mercados, como acontece na maioria dos países submissos aos interesses do sistema financeiro?
Quem, compromissado com geração de emprego e renda, será contra a diminuição da jornada de trabalho, para diminuir os impactos das inovações tecnológicas, que vão gradativamente diminuindo a necessidade de utilização da intervenção humana no mundo do trabalho?
O voto aos 16 anos é uma bandeira cara da juventude, e o povo está sendo chamado a se pronunciar a respeito.
Os Conselhos Populares, se referendado pelos venezuelanos, farão parte do poder público, e isto é um ensinamento inclusive para o Brasil, paraíso da corrupção, em que a democracia representativa a cada dia se revela mais com a democracia dos ricos e poderosos.
A democracia só acontece de fato e de direito quando o povo não é somente eleitor, mas parte da condução cotidiana do Poder Público.
Sobre dar um caráter socialista ao Estado Venezuelano, se a pergunta pudesse ser desmembrada, seria perguntado ao povo se o Estado protegerá prioritariamente o ser humano ou a propriedade privada.
Ou ainda: o Estado protegerá o meio ambiente ou o mercado capitalista? É disso que se trata.
O socialismo é uma proposta humanista, que coloca os interesses da maioria, os interesses mais nobres, à frente dos interesses mesquinhos e destrutivos das elites, que sempre são capitalistas.
Sobre a proposta de reeleição ilimitada para o Presidente repousa parte substantiva das polêmicas que envolvem o atual plebiscito.
Aqui, as forças conservadoras conseguem aplicar todo o seu cinismo.
Para eles, agora, alternância de governantes é sinônimo de democracia.
Nada mais hipócrita e falso.
A alternância de governantes é certamente sempre desejável, mas de forma alguma pode se confundir com condição sine qua non para a existência de democracia, muito menos para caracterizar um governante como ditador.
Uma das condições básicas para a democracia é a participação popular, e quanto maior e direta é esta participação, mais profunda é a democracia.
E neste aspecto, admitamos, a Venezuela está à frente de todos os demais governos latino-americanos e certamente do mundo todo.
O próprio plebiscito que acontecerá no próximo dia 02 de dezembro é um exemplo disso.
O povo é quem decidirá, como já vem acontecendo com regularidade na Venezuela.
O governo não está impondo, mas consultando o povo.
No entanto, esta democracia incomoda as elites, pois os pobres são as maiorias, e tem direito a voto.
Portanto, para além dos aspectos do conteúdo das reformas propostas no plebiscito, o Estado Venezuelano avança na consolidação de uma cultura de participação popular, que é talvez a reforma mais profunda, pois está enraizando-se nos usos e costumes do povo venezuelano, e esta cultura não se revoga por decreto, muito menos com golpes, como o aplicado contra o governo Chaves em 2002, com o apoio da Cia, e que o povo, já com sua cultura de participação política, desfez em menos de 48 horas.
Além de tudo o que já foi colocado, o PSOL é um partido anti-imperialista, e é nítida a confrontação que existe entre os interesses venezuelanos e as aspirações do imperialismo norte-americano.
Nestes casos o PSOL tem lado e não vacila: o lado do povo venezuelano.
PS: Edilson Silva é presidente do PSOL/PE, membro da Direção Executiva Nacional do PSOL, escreve às sextas para o Blog de Jamildo.