Não tenho procuração para defender o governo Lula, mas não posso calar diante de algumas colocações falaciosas feitas publicamente pelo bispo suicida de Barra.
A escolha do local do protesto também é muito reveladora.
Ao invés de Cabrobó, Sobradinho.
Qual a razão? “Agora mesmo é grande o sofrimento do povo não muito distante do rio e do lago de Sobradinho que, em função da energia para um desenvolvimento contra o povo, está com apenas 14%”.
O lago está mais seco porque está quase no final do período seco.
Já está chovendo em Minas Gerais e logo a água será represada em Sobradinho, a caixa dágua do Nordeste.
Não há risco de racionamento do Nordeste.
O sistema hoje é interligado, graças à mudanças que foram introduzidas pelo governo federal, ainda nos anos 90.
No entanto, a parte da carta mais elucidativa de suas pretensões é o ataque ao agronegócio, ao capitalismo, raiz de toda a movimentação contra a transposição, como se o Nordeste não tivesse direito a participar dele. “O povo, principalmente das cidades, é quem vai subsidiar os usos econômicos, como a irrigação de frutas nobres, criação de camarão e produção de aço, destinadas à exportação.”, reclama.
Os nordestinos precisam ser mantidos na miséria, para que os MST da vida, os MSTs das águas, os falsos profetas tenham vida e recebam recursos de ONGs internacionais para manter o Nordeste na merda.
O Nordeste tem o direito de tornar-se uma nova fronteira agrícola, padre.
Quer o senhor abençoe ou não! É absudo impor unilateralmente suas vontades. “Diante disso, não me restou outra alternativa senão retomar o jejum e oração, como havia dito que faria se o acordo não fosse cumprido”.
Como diria o capitão Nascimento.
Perdeu, perdeu, perdeu, padre.
Não é verdade que a transposição “resolva” a seca.
O que não resolve a seca é a cisterna, que o senhor e seus amigos defendem.
Ela não muda a realidade, a vida econômica de ninguém.
Se dependesse de cisternas, Petrolina estaria melhor hoje se estivesse procurando petróleo. É outro absurdo usar como argumento a descontinuidade administrativa, de vários governos, no sistema de irrigação regional, contra o projeto. “A seca não é um problema que se resolve com grandes obras.
Foram construídos 70 mil açudes no Semi-árido, com capacidade para 36 bilhões de metros cúbicos de água.Faltam as adutoras e canais que levem essa água a quem precisa.
Muitas dessas obras estão paradas, como a reforma agrária que não anda”.
O correto, o sério, o honesto intelectualmente, é cobrar a conclusão dos projetos, para que a água seja levada a todos.
Temos que fazer a água andar e não o contrário. “Um projeto de R$ 13 milhões que resolveria o abastecimento dos quatro municípios da borda do lago de Sobradinho espera desde 2001 pelo interesse dos governantes”, entra em contradição. “As águas abundantes do semi-árido falariam por si”, diz o suicida.
Elas falam sim, padre. É uma parte pequena que será desviada, depois das barragens, água que é jogada hoje ao mar.
Se há um doente terminal no São Francisco, não é o rio.
Assim, agradecemos seu sacrifício, padre.
Mas vá para casa!
Mas, antes, explique porque não dá uma palavra sobre as obras de transposição nos projetos de irrigação em Xique Xique, bem em frente a sua Barra querida, na Bahia.
No dia em que me convencerem qual a razão para ser aceitável que se tire água do rio para gerar riqueza na Bahia e em Minas Gerais, ou seja, dentro da bacia, e não é aceitável que se tire água para fora da bacia, como Pernambuco, Ceará e Paraíba, posso mudar de opinião sobre a \desnecessidade\ do projeto.
No mais, é pedir a Deus paciência para ouvir as tolices deste padre, não sei se verdadeiramente mal intencionado ou só um boneco, um ícone, como Lula para as esquerdas.
Por fim, acredito que o gesto do padre chega com 50 anos de atraso.
Ele e a intelectualidade tão preocupada com o povão do Nordeste deveriam acorrentar-se na porta da Chesf quando da sua criação e exigir que ela não levasse apenas energia para o desenvolvimento, como fez tão bem.
Se tivesse sido obrigada por missão oficial a levar água também, quem sabe o Nordeste fosse outro.
Livre de demagogos, à esquerda ou à direita.