O biólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Nelson Marques criticou ontem, em Juazeiro-BA, o presidente Lula e o ministro Geddel Vieira Lima pela falta de dialogo e do não cumprimento dos acordos do Governo Federal com o bispo de Barra-BA, dom Luiz Flávio Cappio, que se encontra em greve de fome desde a última terça-feira (27), em protesto ao projeto de transposição do rio São Francisco.
Nelson Marques participou de uma mesa-redonda com o tema Divulgação e Popularização da Ciência, durante a Reunião Regional da SBPC no Vale do São Francisco, que começou na última terça-feira e termina hoje (30).
Ele defendeu a posição de dom Luiz Cappio, posicionando-se contra a transposição em função do alto custo da obra, da inexperiência do país em executar um projeto desse porte e da forma impositiva e autoritária como vem sendo coordenada, na sua avaliação.
Para o biólogo, o embate entre o bispo e o governo Lula caminha para um desfecho imaginável. “Acho que o governo não cede , nem muito menos o bispo.
Temo pela vida de dom Luiz, pois o governo só poderá mudar de posição se houver uma enorme pressão popular e mesmo pela repercussão externa, internacional da situação sendo levada ao extremo”.
Outro cientista que também condenou a posição do Governo Federal, o doutor em física da atmosfera pela Universidade de Londres e professor da UFBA, Alberto Brum Novaes, acredita que uma obra como a transposição do rio São Francisco somente poderia ser realizada uns 10 anos depois da realização de um criterioso projeto de revitalização do rio. “Teríamos que começar o processo recompondo as matas ciliares, cuidando do assoreamento que é grande, e baseados em estudos técnicos mais detalhados, inclusive com a participação das populações ribeirinhas”.
Alberto Brum, que fez a conferência O Ciclo da Água e o Aquecimento Global, lembrou ainda dos impactos sociais resultantes das grandes barragens feitas ao longo do rio, a exemplo da Barragem de Sobradinho, e das mudanças no ecosistema que deverão ocorrer com a transposição. “Acho que o Governo não arreda pé e o bispo também é de palavra.
Só a sociedade brasileira poderá evitar o desfecho pior, que será a morte de dom Luiz Cappio”.
O ministro da Integração Nacional Geddel Vieira afirmou ontem em Petrolina-PE que a obra é irreversível. “Lamento que como cristão o bispo adote uma atitude tão fundamentalista”.
O Ministro, que esteve visitando projetos agrícolas da região em companhia da comissária para Política Regional da União Européia, Danuta Hübner, enfatizou ainda que o “Projeto de Integração da Bacia do São Francisco com as bacias do Nordeste Setentrional, é ambientalmente sustentável e socialmente justo”.