O representante comercial João Soares de Moraes Júnior, 37 anos, diz que tem dois carmas na vida.

Um é seu sócio, que ele chama de Elvis Presley.

O outro é o seu próprio apelido - Marabá - herança dos dois anos em que serviu como segundo tenente do Exército na cidade paraense, a 500 km de Belém.

Mais precisamente na 23a Companhia de Comunicações de Selva, a 23 CIA COM SL. É aliás com esta identidade que ele reencarna todo santo dia no Blog de Jamildo para, munido de sua metralhadora verbal, disparar seus pontos de vista sempre à esquerda da esquerda.

Marabá é o nosso terceiro leitor atento a topar o desafio de não apenas comentar, mas virar notícia por um dia no Blog.

O primeiro foi Antônio Lyra Filho que, na semana passada, visitou a redação e se declarou “fã incondicional de Lula”.

A segunda foi Helena de Tróia, que se definiu como liberal e foi brindada com mais de 50 comentários entre a segunda (26) e esta terça (27).

Só para lembrar, a idéia dessas entrevistas é conhecer um pouco mais sobre essa crescente comunidade de leitores, marcando o aniversário de 1 ano do Blog de Jamildo, a se completar no início de dezembro.

CARTEIRINHA Marabá é petista de carteirinha.

Literalmente.

E no Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, que acontece no próximo fim de semana em todo o Brasil, vota em Ricardo Berzoini, que concorre à reeleição para a presidência nacional da sigla. “Não faço militância muito coletiva, de estar sempre no partido”, explica. “Minha militância é na internet”.

Ele gasta cerca de três horas por dia na web.

A maior parte do tempo procurando informação, disparando petardos no Blog de Jamildo e alimentando seu próprio blog (clique aqui).

Para se ter uma idéia de suas convições políticas, a página de Marabá tem link até para as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo guerrilheiro que confronta a autoridade das instituições colombianas e do presidente Álvaro Uribe. “Fui expulso do Blog do Noblat”, conta, sem imaginar que o companheiro Antônio Lyra Filho também foi excluído.

Em um de seus comentários, Marabá chegou a prometer bengaladas no jornalista porque, segundo ele, em um dado momento, Noblat elogiou o aposentado que desferiu um golpe de bengala contra o ex-ministro José Dirceu, no Congresso Nacional.

Sim.

Marabá acredita que Dirceu é um homem injustiçado.

Então, quer dizer que Lula cometeu injustiça ao afastá-lo do governo? “Não.

Lula tem perfil republicano.

Acabou indo de encontro ao próprio partido”.

E o mensalão, existiu? “Claro, no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando ele estava querendo aprovar a emenda que garantia a reeleição”, afirma.

Certo.

Mas tem 40 denunciados pelo esquema do PT no STF, insisto. “O procurador-geral (Antônio Fernando de Souza) já começou a aliviar a barra de Sílvio Pereira.

Agora são 39”, diz sorrindo. “O PT usou caixa dois para pagar gastos de campanha.

Por que Lula ia pagar mensalão a quem é da própria base aliada”.

Ok. É melhor falar de cultura.

MANGUE BOY Marabá fez um ano de CPOR e serviu outros dois como segundo tenente do Exército.

Queria completar quatro anos de serviço para alcançar a patente de primeiro tentente e pedir baixa.

Mas desistiu antes.

A morte de um irmão cinco anos mais novo ajudou a definir sua volta a Pernambuco.

E foi aí que, ao entrar em contato com os livros deixados pelo irmão - biografias e documentos sobre personagens da esquerda no Brasil e exterior - Marabá começou a se definir politicamente.

Entrou no PT alguns anos mais tarde, em 2003, depois da primeira vitória de Lula para a Presidência.

Mas sempre simpatizou com a legenda.

Casado há mais de dez anos e pai de dois filhos homens, de 11 e 2 anos de idade, Marabá trabalhou durante muito tempo na área de logística de uma grande empresa de telecomunicações.

Saiu, e junto com o sócio Elvis Presley, batalha agora o fortalecimento de sua representação comercial.

Mas o que gosta mesmo é de compor e tocar.

Sua primeira banda, de nove integrantes, chamava-se Kit Gererê.

Chegou a gravar um CD promocional, mas os desentendimentos começaram antes que a banda pudesse alcançar o sucesso.

Adepto do estilo mangue, Marabá não se entregou. “No momento, estou mais dedicado a consolidar minha carreira profissional (como representante comercial) e tenho ensaiado menos do que gostaria”, diz, informando que já formou uma segunda banda, a Mangangá.

Ele não se arrisca nos vocais.

Encarrega-se da percussão e das letras.

Muitas com forte conteúdo social.

Confira uma delas, a seguir.

ALEA JACTA EST Você quer falar de seca?

Então vou falar pra você A seca não se esconde, maluco Se esconde, a terra há de saber Você quer falar de fome?

Então vou falar pra você Na barriga se esconde a fome Só quem sente é que pode dizer Então não venha me falar de política Manha antiga, Esperando eleição Pois o flajelo do homem É o nome do lóbi pra tua promoção Mas a lâmina que corta do homem a voz Há de cortar também a garganta do algoz Gostou?

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