Esta notícia nem Roberto Tavares, experiente repórter de O Globo e ex-diretor de redação adjunto aqui no JC, autor das denúncias do escândalo da mandioca e de um livro sobre o caso, poderia esperar.

A Procuradoria Seccional da União (PSU) em Petrolina (PE) acaba de anunciar que conseguiu na Justiça restituir R$ 255 mil aos cofres da União, desviados do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (ProAgro), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O valor estava na conta de Diormina de Lima Ferraz, esposa de Edinardo Ferraz, um dos principais envolvidos no “escândalo da mandioca”, que ocorreu em 1980.

Os acusados adquiriam empréstimos do ProAgro para o plantio de mandioca e na hora de quitar as dívidas com a União alegavam a perda da safra.

O processo de Edinardo Ferraz tramita na 20ª Vara Federal de Salgueiro e a sua dívida atualizada é superior a R$ 400 mil.

A PSU conseguiu localizar três contas correntes conjuntas dele com sua esposa.

Em 2003, a Justiça bloqueou e penhorou os R$ 255 mil e, no início deste ano, determinou a restituição dos valores aos cofres públicos.

Inconformada, Diomirna Ferraz entrou com um recurso de apelação, mas ele foi negado pela Justiça.

A advogada da União Érica Moura Freire, que atuou neste caso, argumentou que a dívida foi contraída em benefício da família de Edinardo, por isso, sua esposa também responde pelos débitos adquiridos pelo marido.

Na época do escândalo da mandioca, o Tribunal de Contas da União (TCU) foi acionado para investigar as fraudes e condenou todos os envolvidos.

O Ministério Público Federal (MPF) também participava das investigações e o procurador da República Pedro Jorge de Melo e Silva, que estava à frente das denúncias, foi assassinado em março de 1982 no município de Olinda (PE).

As unidades da AGU moveram ações de execução para cobrar os valores desviados e a PSU acompanha aquelas em trâmite nas Varas Federais de Petrolina e Salgueiro.

Ao todo, são aproximadamente 50 processos e as demandas estão na Justiça há mais de 20 anos.

Segundo o procurador-seccional da União, Raul Murilo Fonseca Lima, a demora na solução das questões que envolvem o escândalo da mandioca ocorre devido à enorme dificuldade na localização dos bens dos devedores. “Muitos empréstimos foram contraídos junto ao Banco do Brasil com o uso de documentos falsos e apresentando como garantia bens inexistentes ou de propriedade de terceiros, o que dificulta a recuperação dos créditos”, lamentou.

PS: o veretano jornalista Marcos Cirano esclarece, em comentário abaixo, que quem primeiro denunciou o escândalo da mandioca foi o extinto semanário recifense Jornal da Cidade, em nota datada de 04 de junho de 1981.