Do G1 O novo coordenador político do Palácio do Planalto, o ministro José Múcio Monteiro (PTB), assumiu oficialmente na sexta-feira (23) um cargo marcado pela instabilidade e insegurança.
Em três anos e 10 meses, ele é o quinto a chefiar a secretaria responsável pelas negociações do Palácio do Planalto com o Congresso.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tirou as atribuições da articulação política da Casa Civil em janeiro de 2004, e, desde então, dos quatro ministros que assumiram as funções, apenas um, Aldo Rebelo, conseguiu ficar mais de um ano despachando do quarto andar do Palácio do Planalto.
Deputado pelo PC do B de São Paulo, Rebelo ficou à frente da então Secretaria de Coordenação Política durante pouco menos de um ano e seis meses.
Ele deixou o cargo numa das reformas ministeriais e acabou eleito presidente da Câmara dos Deputados.
O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), afirma que a inconstância do cargo deve-se ao desgaste que o ministro sofre ao tentar equilibrar os interesses dos aliados com os do governo. “É um cargo ingrato.
Ninguém consegue ficar mais de um ano como coordenador.
Nos primeiros seis meses, o novo ministro chega trazendo esperanças de novidades, depois, quando ele percebe que o trato com os outros ministros é difícil e pouca coisa sai do papel, ele fica desgastado e acaba saindo”, teorizou o deputado.
Por isso, na avaliação de Castro, é que a maioria dos ministros que chefiou a Secretaria preferiu outros vôos com maior reconhecimento. “De todos os ministérios, esse é o mais difícil e delicado por ser o pára-choque do governo”, afirmou o líder do PR.
Até agora, o único que saiu da pasta sob acusações de irregularidades foi o último: Walfrido Mares Guia, que ficou apenas oito meses no cargo, recorde de menor tempo.
Ele é acusado pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, de operar um esquema de desvio de verbas públicas para o “caixa dois” da campanha de reeleição do então governador de Minas Gerais e hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
O caso ficou conhecido como o “mensalão mineiro”.
Todos os anteriores deixaram os cargos para um posto de maior destaque.
Jaques Wagner (PT) assumiu a coordenação por pouco mais de oito meses e saiu do governo em 31 de março do ano passado para disputar - e vencer - o governo da Bahia.
O presidente Lula, então, escalou Tarso Genro, que havia sido ministro da Educação e presidente do PT, para ser seu “braço direito” nas conversas com o Congresso.
Genro ficou 11 meses e 13 dias na pasta e foi promovido para o Ministério da Justiça.
ESTRUTURA O deputado José Aníbal (PSDB-SP) culpa os problemas da estrutura do governo pela vida útil passageira do ministro da coordenação política. “Um governo desarranjado faz com que aumente a freqüência de ministros.
A coordenação política não passa de um balcão de negócios para aprovar matérias de interesses do governo no Congresso”, disse o tucano.
O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), rejeita a tese de que o cargo de coordenador político do Palácio do Planalto seja desgastante e efêmero.
Para ele, o tempo que cada ministro ficou no cargo não passa de uma “coincidência aleatória”.
Fontana avaliou que a coordenação política é a “arte” de encontrar afinidades entre diversas opiniões e visões. “O ministro tem que tocar um determinado projeto e tentar compatibilizar as diversas propostas, ouvir todos os lados”, disse.
O líder governista admite que em determinadas situações é difícil ajustar o que pensam aliados com as opiniões dos colegas ministros.
José Múcio Monteiro assume o cargo com promessas de conversa com aliados e oposição e promete empenho para aprovar o interesse imediato do Planalto no Congresso: a prorrogação da CPMF.
O colega governista Luciano Castro avisou que o cargo é ingrato.
E o tucano José Aníbal é cético e disse que se o novo ministro mantiver o ritmo dos antecessores, “não vai durar muito tempo”.
PREVIDÊNCIA Também passaram pelo Ministério da Previdência cinco ministros.
Entre eles, o atual líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que ficou à frente da pasta por apenas quatro meses.
Apesar de ter passado pelo órgão o mesmo número de ministros que a coordenação política, a média de tempo que cada um chefiou a Previdência é maior (12 meses).
Como a coordenação foi criada apenas no segundo ano do primeiro mandato do governo Lula, o período médio supera levemente os 9 meses.