Por Lúcio Lambranho, do Congresso em Foco Além de apontar quem deveriam ser os beneficiários do chamado mensalão mineiro, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, teve participação ativa na tentativa de tentar comprar o silêncio do tesoureiro da campanha de reeleição do governo de Minas Gerais em 1998, Cláudio Mourão. É o que diz a denúncia entregue nesta quinta-feira (22) pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Denominado como “operação abafa”, o problema foi gerado com a derrota eleitoral do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e a dívida decorrente dos gastos que teriam deixado Mourão com saldo negativo de R$ 1,5 milhão.

O rombo financeiro foi contraído, segundo a denúncia, pela Locadora de Automóveis União Ltda, cujos sócios eram os filhos do tesoureiro. “Com o agravamento da sua situação financeira, Cláudio Mourão rompeu com Eduardo Azeredo e resolveu cobrar a dívida”, diz o relato do procurador-geral da República.

Walfrido, segundo a PGR, sabia da captação ilícita de recursos e, por isso, “não hesitou em participar da operação destinada a atender exigência de Cláudio Mourão, que cobrava de Eduardo Azeredo o pagamento da dívida.” Pagar a dívida de Mourão significava, diz o texto, “impedir qualquer tipo de publicidade para os crimes perpetrados em 1998”.

A denúncia cita os três passos financeiros da “operação abafa”, um deles executado diretamente pela Samos Participações Ltda, de propriedade de Walfrido.

O relatório policial informa que a Samos teve movimentação financeira incompatível com a renda declarada à Receita Federal: “b) além de depósitos do próprio Marcos Valério e da SMP&B Comunicação, Marcos Valério é ressarcido por um depósito de R$ 507.134,00, oriundo da empresa Samos Participações Ltda, cujo sócio majoritário, com 99% do capital, é Walfrido dos Mares Guia” No caso da Samos, cujo depósito citado acima foi feito após empréstimo contraído por Walfrido no Banco Rural pode comprometer o ministro.

O empréstimo, segundo a denúncia, não passou por nenhum tipo de formalidade de avaliação de crédito: “Quanto às formalidades do empréstimo, cabe ressaltar que o Banco Rural não apresentou qualquer documento de avaliação da capacidade econômica-financeira da empresa SAMOS, ou dos avalistas, não sendo possível atestar se cumpriu às determinações da Resolução 2.682, de 22/12/1999, do Conselho MonetárioNacional.” Mas o abafa não deu certo, e Mourão cobrou mais para continuar calado, como diz a denúncia da PGR, e poupar “seus ex-companheiros de empreitada ilícita em 1998 em busca de mais dinheiro”.

Outras duas denúncias Esta é a terceira denúncia contra Walfrido neste ano.

O Congresso em Foco publicou, em abril passado, que o ex-ministro do Turismo liberou R$ 24 milhões para entidades sem fins lucrativos, como sindicatos mineiros, contrariando a Lei de Diretrizes Orçamentárias – investigação que, atualmente, corre na Procuradoria da República no Distrito Federal e no Tribunal de Contas da União.

No mesmo mês, este site noticiou que o Supremo segura, desde outubro de 2005, uma ação de improbidade contra o ministro, por uso particular de aviões do governo de Minas.

O processo continua parado no gabinete do ministro do Supremo Gilmar Mendes.