Por Renato Lima Da editoria de Economia do JC No quesito desigualdade, o que já era ruim no Recife está ficando pior.

Segundo estudo do economista André Urani, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), a Região Metropolitana do Recife (RMR) é a segunda mais desigual em se tratando de renda do País.

Perde apenas para o Distrito Federal.

Mas no Grande Recife, a disparidade vem aumentando.

Os dados têm por base a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad) 2006, feita pela IBGE. “A desigualdade é uma marca registrada do Recife”, diz Urani.

Uma das formas de se calcular isso é através do chamado índice de Gini, que vai de 0 a 1.

Quando mais alto, mais desigual o local pesquisado, pois o valor 1 é como se toda a renda ficasse concentrada em apenas uma pessoa.

O Gini do Recife ficou, segundo cálculos de Urani, em 0,608. “O Recife tem uma renda baixa e uma desigualdade alta”, diz o economista.

A campeã da desigualdade é o Distrito Federal, o que pode ser explicado pelos altos salários de funcionários públicos de Brasília ao lado da pobreza existente nas cidades-satélites.

O que não é o caso do Recife, que não se trata de uma cidade preferencialmente de funcionários públicos.

Segundo Urani, para 2006, a renda per capita domiciliar da cidade foi de R$ 502.

Para o Rio de Janeiro, o valor era de R$ 858,00 e para Brasília R$ 1.119.

A média para as regiões metropolitanas é de R$ 761,00.

Recife é a segunda mais desigual e possui uma renda média de menos da metade de Brasília. “Provavelmente os ricos do Recife não são menos ricos do que os de Brasília, mas os pobres são mais pobres”, arrisca o economista.

Ele aponta que, na contramão do País como um todo, a desigualdade sobe aqui. “No Brasil, estamos reduzindo de forma lenta e gradual a desigualdade de renda.

Essa redução é mais lenta nas regiões metropolitanas mas, no caso específico do Recife, ela aumenta.

Essa combinação de renda baixa e desigualdade alta resulta em pobreza e indigência”, diz.

Entre 1995 e 2006, a desigualdade na RMR aumentou 4%.

O professor de economia da UFPE e também pesquisador sobre desigualdade de renda Raul Silveira aponta que o restante de Pernambuco conseguiu reduzir a desigualdade, mas a Região Metropolitana puxa o índice de Gini para cima. “O setor urbano não-metropolitano, como Caruaru e Petrolina, não tiveram aumento de desigualdade e no setor rural ela caiu.

O que puxa a desigualdade em Pernambuco é, sem dúvida, a região metropolitana”, diz.

A média para Pernambuco fica em 0,591, enquanto a do setor rural é de 0,448 e a do urbano não metropolitano 0,505. “É uma charada tentar entender porque a RMR tem um desempenho tão diferente do resto do Brasil”, afirma o especialista.

Boa parte dos ganhos em redução de desigualdade rural pode ser explicada pelas políticas compensatórias, como o programa Bolsa-Família, do governo federal.

A injeção de recurso direto na pobreza - quando a verba não é desviada - provoca um imediato aumento de renda, embora se levante dúvidas em relação à sustentabilidade.

Os ganhos rurais também são influenciados pelos benefícios do INSS, que subiram devido aos aumentos reais do salário mínimo.