Apesar de muito ocupado com sua quase campanha, o secretário de Planejamento do Recife, João da Costa, visitou hoje o Blog de Jamildo para uma rápida conversa.

No que pode ser interpretado como uma radicalização da aposta na urbanização do Recife, especialmente nas favelas, João da Costa diz com todas as letras que planeja ser um estatista no comando da PCR, em 2008.

Para ele, a maior parte dos nossos problemas ocorre por falta de uma presença maior do estado.

Aproveita e fala também de Hugo Chávez, Mercosul, cinema e dá até indicações de leitura.

Tropa de elite Não vi por falta de tempo, com as atividades da prefeitura.

Mas vou ver assim que puder.

Violência e polícia O filme provocou um debate sobre a estrutura que o Estado dá à população e a repressão.

Não é à toa que é nas cidades que temos a maior parte da violência. É nas cidades que se materializa a maior concentração de renda.

Agora também é preciso diferenciar as realidades.

Tem a violência social, do pequeno furto.

E aquele do crime organizado, sem o controle da sociedade.

Falta de Estado no combate à violência Quando chega o Bope distribuindo cacetada, qual a reação do sujeito que está na favela?

O cara tá abandonado, não tem saúde, não tem educação, não tem emprego.

Ele pensa assim: “e o cara ainda vem me bater?” Não pode haver identificação com o Estado.

O que precisamos é de mais Estado.

Concentração de renda no Recife não cai A culpa não é do prefeito João Paulo.

O governo Federal começou a reverter este problema agora.

Não temos o que esconder nesta discussão, uma vez que com o Atlas do Recife mostramos que temos a pior concentração de renda e não a segunda, como essa nova pesquisa.

Os mais ricos do Norte e Nordeste vem morar aqui, como os mais pobres entre os mais pobres do mesmo Norte e Nordeste.

Não vai ser só o trabalho da PCR que vai mudar isto.

Pessoalmente, acho que o buraco está na classe média.

O novo tipo de emprego, dos projetos estruturadores que estão chegando, pode ajudar a mudar isto.

Numa conversa na Ademi, ouvi que Recife vendia a mesma quantidade de apartamentos, apesar da Bahia ter uma economia maior.

Hoje, Salvador vende o dobro do Recife.

A classe média é a maior compradora de apartamentos hoje lá.

PAC de João Paulo A exclusão é global.

A reforma urbana, assim, é uma aposta para dar mais alto estima para as pessoas mais pobres e ajudar a reduzir a pobreza.

No Recife, o PAC tem 12 bairros, de Campo Grande a Dois Unidos.

Neste sábado, vamos visitar o Canal do Jacarezinho, em Campina do Barreto, onde estão sendo gastos R$ 20 milhões em saneamento e habitação para 200 famílias.

Lula, a cara do Estado Quando o cara recebe sua cesta básica, tem atendimento no PSF, tem escola e creche, ele começa a perceber o Estado existe e materializa isto na figura do presidente.

Lula identifica o Estado na cabeça dele Leitura engajada Neste momento, estou lendo Planeta Favela, de Mike Davis.

Ele mostra o reflexo do neoliberalismo e sua repercussão no terceiro mundo.

Mostra favelas em todas as grandes cidades no mundo.

Para mim o livro tem sido muito útil porque, quando muitos defenderam o Estado mínimo, o que mais precisamos é de mais estado para dar essa resposta social.

Em uma sociedade abandonada, destroçado, precisamos de mais estado e não de estado mínimo.

Outro livro que estou lendo é o Mundo é Plano, do economista Thomas Friedman.

Comunicação Leio os jornais, vejo a internet, vejo o seu Blog, volto para os jornais.

Mídia Golpista Eu acho que a mídia tem partido no Brasil.

Ontem mesmo, no Jornal da Globo, a manchete era assim: Chávez vence no Congresso (com a aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul).

Ora, o Congresso brasileiro não tem autonomia para decidir?

Olha que são as mesmas pessoas que defendem a globalização, a ampliação dos mercados.

Por isto, defendo a discussão da democratização dos meios de informação e comunicação.

Deve ser realizado um debate no Congresso.

Chávez e democracia Cada um tem a sua forma de democracia (evitar responder se existe democracia ou não por lá).

Se a gente olhar para uma democracia clássica, talvez não tenha.

Agora, o processo histórico de lá gestou este tipo de democracia, onde alguns setores não concordam.

Acho que é um pouco forçar a barra dizer que é o petróleo que compra o voto por lá, como se diz que o Bolsa-Família com Lula.

Acho que o povo diz assim: eu vivia melhor antes ou agora?

Tem gente esquecida que antes tinha golpe toda semana.

Turma de Baixinhos Na sua chegada ao Blog, brinco com a sua estatura e a de seu assessor de comunicação, Idelfonso Fonseca.

Ambos contam com 1.62 metro. “O senhor está contratando assessor pela estatura, João da Costa?”, provoco. “É sim.

Não pode ser maior do que eu”, brinca, de bom humor.

Como não pude ir a sua festa de aniversário, recebi João da Costa com um bolo de rolo e guaraná hoje.

PS: No livro Planeta Favela (Editora BOITEMPO, 2006, 272 páginas, R$ 38,00), o urbanista norte-americano Mike Davis investiga as origens do crescimento vertiginoso da população em moradias precárias a partir dos anos 80, na América Latina, na África, na Ásia e no antigo bloco soviético.

Combinando erudição acadêmica e conhecimento in loco das áreas pobres das grandes cidades, Davis, sem nunca esquecer o aspecto humano da vida em moradias precárias, traz a história da expansão das metrópoles do Terceiro Mundo, analisando os paralelos entre as políticas econômicas e urbanas defendidas pelo FMI e pelo Banco Mundial e suas conseqüências desastrosas, nas gecekondus de Istambul (Turquia), nas desakotas de Accra (Gana) ou nos barrios de Caracas (Venezuela), alguns dos nomes locais para as aproximadamente 200 mil favelas do planeta.