O jornalista carioca Domingos Meirelles, de 65 anos, apresentador do programa Linha Direta, da Rede Globo, fez uma visita ao Blog de Jamildo para falar sobre mídia e violência, tema de uma palestra na Comissão de Cidadania da Assembléia Legislativa do Estado em parceria com o Sindicato dos Jornalistas do Estado.

Acabou falando sobre política, segurança pública, história e jornalismo, aqui conosco.

Depois de lançar A Noite das Grandes Fogueiras (1995/Record), seu primeiro livro, sobre a Coluna Prestes, o jornalista aproveitou a visita à cidade para lançar Órfãos da Revolução (Record), sobre a revolução de 30, na Saraiva do Shopping Recife.

Veja um resumo da conversa.

O papo do cara é reto, cumpadi, como a linha é direta.

Violência maior A violência que frequenta o noticiário é a violência que afeta as classes dominantes, as elites. É o roubo, o furto e os homicídios, que incomodam a pequena burguesia.

A principal violência, a maior violência, é o desemprego.

O direito ao trabalho é tão importante quanto o direito à vida.

São os negros e os pobres que estão sem trabalho na periferia.

Isto é mais dramático, é mais doloroso, a violência contra a periferia.

Assim, a mídia seleciona um tipo de violência e bate na mesma tecla.

Não se discute o desemprego.

Só se discute a repressão maior pela polícia.

Ataques antigos É mais fácil colocar a culpa na mídia por supostamente estimular a violência.

No tempo do império, os jornais eram acusados de incentivar os suicídios.

Quando surgiu o cinema mudo, houve uma campanha imensa pelos jornais.

Era acusado de ensinar a roubar e a beijar em público.

Polícia Não interessa às eleites que a polícia seja eficiente.

O que interessa é a preservação do patrimônio.

Não se está preocupado com o ser humano, com o cidadão.

Melhores salários Como querer que os policiais sejam honestos, ganhando a merreca que ganham.

Só se fossem monges beneditinos ou congregados marianos.

Temos que discutir a qualificação profissional, a eficiência, mas isto não parece interessar.

Só se discute a repressão, o aumento da repressão pela polícia.

Caveirão não é novidade Aqui mesmo no Estado de vocês, no governo de Estácio Coimbra, importou-se dois blindados, que não eram nem blindados, para garantir a ordem nas ruas, como está citado em livro de Frederico Pernambucano de Melo.

Tropa de elite O filme está incomodando tanto porque reproduz a verdade. É bem feito como cinema.

Não é a polícia que queremos, mas é a realidade.

A polícia que interessa às elites.

Pronasci Não acredito neste programa.

Não acredito neste governo, mas não quero falar mal do Lula.

Não há solução que venha de cima para baixo.

Imprensa golpista Não concordo com a generalização.

Há setores golpistas, mas não quero entrar em polêmica com o Paulo Henrique Amorim.

Ele me levou para a Rede Globo.

Outro assunto que o jornalista pediu para não tocar foi o processo que o magistrado Etério Galvão move contra a Rede Globo de Televisão.

Galvão teve o rumoroso caso divulgado no Linha Direta.

Ele acaba de reassumir suas funções no TJPE, mas continua respondendo processo no STF.

Governo Lula Este governo é brilhante, quando consegue cooptar a sociedade.

Faz um acordo com as elites e o campesinato, deixando a classe média reclamando sozinha.

Basta ver que nunca os bancos ganharam tanto dinheiro no Brasil.

Já o ex-presidente da CUT Marinho virou ministro.

Bestialização Vivemos hoje um estágio de alienação tão grande que impede uma reflexão maior. É claro que é um erro dizer que o brasileiro médio é um Hommer Simpson. É pior do que Simpson.

O grande público não entende o que se divulga.

Está se desenvolvendo um tipo especial de analfabetismo.

Não percebe as mensagens.

Isto é grave.

Há uma bestialização da sociedade. É neste vácuo que vem o atual governo e diz: deixa que eu represento os interesses do povo.

Não é bom que os cidadãos abdiquem dos seus direitos em benefício dos representantes.

Pais de Cegos A exemplo dos personagens de Saramago, no livro Ensaio sobre a Cegueira, este é um país de cegos.

Eles não contam com nenhum defeito no aparelho visual, mas não vêem.

Não enxergam. (Comentário meu: daí os jornalistas que não venderam a consciência e a mída mais crítica serem tão perigosos, ao dizerem que o rei está nu).

Jornalismo, profissão cruel O jornalismo é como uma amante francesa.

Te explora a vida inteira e, quando você mais precisa, ela te troca por um amante mais jovem.