Da editoria de Cidades do JC O relator especial em execuções sumárias, mortes arbitrárias e questões extrajudiciais da Organização das Nações Unidas (ONU), Philip Alston, chegou no domingo (11) ao Recife e terá audiência com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, às 9h desta segunda (12), no Palácio do Campo das Princesas.

Ele cumpre visita oficial de 11 dias ao Brasil, para colher denúncias de abusos e impunidades nos Estados de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Pernambuco.

Philip Alston passou o domingo em Nazaré da Mata, município da Zona da Mata, ouvindo relatos.

Pela manhã, participou de audiência pública com cerca de 60 pessoas, no Assentamento Pedro e Inácio, antigo acampamento do Engenho Camarazal.

O lugar escolhido foi palco de um massacre contra trabalhadores rurais sem-terra, dez anos atrás.

No ataque ocorrido dia 9 de junho de 1997, pistoleiros mataram dois agricultores e deixaram outras cinco pessoas feridas, sendo duas crianças.

Ninguém foi punido pelos crimes, até hoje.

Depois do massacre, o governo desapropriou o engenho e o assentamento coordenado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu o nome dos dois agricultores mortos: Pedro Augusto da Silva e Inácio José da Silva, que eram cunhados.

Representantes de entidades ligadas aos direitos humanos e outras pessoas com interesse no assunto se deslocaram até Nazaré da Mata para falar com o relator.

Ele ouviu histórias sobre crimes praticados contra a população indígena, homicídios no campo, assassinatos sem punição na cidade do Recife e na região metropolitana, grupos de extermínio, matança nos subúrbios e periferias das áreas urbanas.

São denúncias de entidades e de familiares das vítimas, que também prestaram depoimentos individuais, no período da tarde.

CONSELHO Relatório com recomendações para o Brasil será encaminhado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Australiano, Philip Alston está no País desde o último dia 3.

Além de escutar a sociedade civil, ele também se reúne com representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Com base nos relatos, ele tenta identificar os motivos de os criminosos não estarem sendo punidos como deveriam.

A última parada do relator, antes de visitar Pernambuco, foi o Rio de Janeiro.

Ele esteve no Complexo do Alemão, morros ocupados por favelas, na Zona Norte da cidade, sábado passado, e ouviu depoimentos de 12 parentes de pessoas mortas por policiais.

Em Pernambuco, a escuta da sociedade civil contou com apoio do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH).

Philip Alston é professor de direito e diretor do Centro de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Nova Iorque (EUA).

Ele fica no Recife até esta segunda.