Por Ayrton Maciel Da editoria de Política do JC Passados dez meses e dez dias de mandato, o governo Eduardo Campos prepara uma avaliação de desempenho de final de ano de seu secretariado.

Em janeiro de 2008, pode vir a primeira reforma, com mudanças de secretários por baixos resultados.

Oficialmente, o Executivo não fala em substituições, mas, nos bastidores, governistas apontam pastas que estão com desempenho aquém da expectativa e precisam “decolar”.

Embora como em todo governo janeiro seja o mês tradicional para ajustes da máquina governamental, Eduardo pode esperar, todavia, pelo final de março, prazo limite para desincompatibilização de quem vai disputar as eleições de outubro.

O governador aproveitaria para substituir os pré-candidatos e os que não estão atingindo metas e cumprindo prazos.

Com um governo armado em cima de uma imensa base partidária, aliados asseguram que Eduardo não tem acanhamento para cobrar resultados, derrubando qualquer imagem extra-muros do Palácio do Campo das Princesas nesse sentido.

DEGOLA As maiores deficiências, hoje, estão em duas secretarias de ponta, e dentro do governo é dada como provável a troca de titulares: a de Turismo, ocupada pelo deputado federal José Chaves, indicado pelo PTB, e a de Desenvolvimento Social, à frente o ex-conselheiro do TCE Roldão Joaquim, nome do PDT.

O desempenho das duas secretarias é avaliado como abaixo das expectativas e os resultados, decepcionantes.

A Secretaria Especial de Esportes, do ex-deputado Nelson Pereira, escolhido pelo PCdoB, Igualmente está na cota de insatisfação do governo.

Essas três estão na mira da degola.

No rol das preocupações, inclusive pelo peso político da pasta, está a Secretaria de Saúde, ocupada pelo ex-candidato a senador Jorge Gomes.

Da mesma forma, o ex-prefeito de Sertânia Ângelo Ferreira não se destacou na Agricultura e Reforma Agrária. “É acanhado.

Não conseguiu sequer definir um projeto de extensão rural”, alega um governista.

Jorge, Roldão e Ângelo são arraesistas históricos – ligados ao ex-governador Miguel Arraes e, hoje, a Eduardo.

Isso pode pesar na hora da decisão.

CONFIANÇA Ao formatar o seu secretariado, o governador Eduardo Campos decidiu entregar as secretarias-meio – as que dão a sustentação administrativa e política ao governo – a pessoas de sua “extrema confiança pessoal e política”.

Nas pastas da Fazenda, Administração, Educação, Recursos Hídricos, Casa Civil, Planejamento e Gestão, Saúde e a Procuradoria Geral do Estado, a instância de defesa jurídica do governo, estão “as cabeças” do núcleo forte da gestão.

São políticos e técnicos que acompanham Eduardo há anos, alguns estiveram com ele no Ministério da Ciência e Tecnologia (2004/2006) ou têm vínculo histórico com o ex-governador Miguel Arraes.

Esses estão fora do risco de uma eventual reforma.

São os intocáveis.

A avaliação do governador é que estão bem nas tarefas, com ressalva, porém, para a pasta da Saúde. “É mais pelo perfil de Jorge.

Ele não se adequa a um cargo executivo”, justifica um governista íntimo do Palácio.

Com perfil mais político e menos operacional, o governo considera que Jorge Gomes carece de “agilidade” na gestão da Saúde.

Os problemas da Saúde se tornaram maiores do que a sua capacidade gerencial, e agravaram-se com a greve, quando não soube conduzir o conflito. “Jorge não tem perfil de gestor”, diz um socialista.

Mas a saída é improvável.

O governo reconhece que ele assumiu uma pasta difícil e necessita exatamente da assessoria mais operosa.

Sem perfil e sem assessoria adequada, o resultado foi desgaste com os médicos na recente greve da categoria.

Eduardo, porém, tem uma dívida de gratidão com o secretário da Saúde, que foi para o sacrifício em 2006, como candidato ao Senado (PSB), quando tinha uma reeleição à Câmara Federal dada como certa.

Jorge abriu caminho para Wolney Queiroz, filho do deputado estadual José Queiroz, presidente do PDT, patrono da indicação de Roldão para Desenvolvimento Social.

Roldão, por sua vez, foi um dos coordenadores da campanha de Eduardo.

O governo pretende apostar um pouco mais na “decolagem” de Jorge.

Ao contrário da Saúde, o secretário da Educação, Danilo Cabral, está respondendo aos desafios da pasta, caracterizada por um forte corporativismo sindical.

E tem em torno de si – segundo um frequentador do Palácio – o grupo mais operoso que falta na Saúde, apresentando mais agilidade.

FRITURA Consideradas como as de mais baixos resultados do secretariado, Turismo e Desenvolvimento Social surgem como as pastas que devem encabeçar as mudanças em 2008.

No caso de Turismo, a saída de José Chaves (PTB) – indicação do deputado e presidente da legenda, Armando Monteiro Neto – é dada como inevitável.

Entre os próprio petebistas há essa conclusão.

Trabalhistas avaliam que Chaves passa por “um processo de fritura natural”, em razão do desempenho que não corresponderia às expectativas do próprio partido.

Como secretário, Chaves é criticado até do ponto de vista político, por levar pancada o tempo todo e não saber se defender.

A expectativa é que saia em janeiro.

Um sinal nesse sentido, segundo um petebista, é o fato de Armando não ter saído em defesa de Chaves, em nenhuma das ocasiões, quando dos ataques que sofreu a secretaria.

A falta de resultados e uma crise política são os fatores da avaliação negativa da secretaria de Desenvolvimento Social.

Com pretensão de ser deputado federal em 2010, o secretário Roldão Joaquim (PDT) gerou arestas na pasta ao abrir espaço para a direita. “É um secretário com dificuldade de se consolidar.

Ele está aparelhando a secretaria para preparar a sua candidatura”, diz um governista.

A crítica é confirmada nos bastidores da Assembléia Legislativa.

O titular dos Transportes, Sebastião Oliveira (PR) – primo do deputado e presidente do PR, Inocêncio Oliveira –, também não atingiu o nível de satisfação desejado por Eduardo.

Há, porém, sinais de progresso.

O problema é que ele enfrenta uma queda-de-braço que dificulta a sua atuação: a disputa com Inocêncio pelo controle da secretaria.

O governo reconhece, segundo um membro da base, que a questão não está solucionada.

Entretanto, o Palácio já teria tomado uma decisão: se a disputa chegar ao ponto de Eduardo ter de se posicionar, ele ficará do lado de Sebastião.

EXECUTIVOS Se por um lado o governo tem o grupo dos “intocáveis”, por outro tem também o dos “executivos”, os tocadores de obras e de ações sociais.

São secretários definidos como “de ponta” que, assim como os intocáveis, estão sólidos pelo desempenho e vão permanecer.

São os casos do de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho (PSB), e o das Cidades, Humberto Costa (PT).

Igual prestígio tem o de Recursos Hídricos, João Bosco Almeida.

Histórico arraessista, João Bosco “vai bem” numa secretaria estratégica, tem a confiança e é uma das apostas de Eduardo Campos para a visibilidade do governo.

Uma surpresa, segundo a fonte, uma novidade contabilizada como conquista, é o Ocupante da Controladoria Geral do Estado, Ricardo Dantas.

Técnico requisitado à secretaria da Fazenda, Dantas estaria se destacando com a implantação de um modelo de gestão e controle dos recursos do Estado. Área em que tem fácil trânsito, e com a tarefa de conduzir o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado, o secretário Especial de Articulação Social, Waldemar Borges (PSB), tem avaliação em alta.

De perfil operacional, mas sem a capacidade de gestor e política do antecessor, Romero Menezes, o secretário de Defesa Social, Servilho Paiva - também delegado da Polícia Federal – recebeu a tarefa de consolidar o Pacto pela Vida.

O governo acredita que o programa vai apresentar resultados.