Comentários Sobre o Filme “Tropa de Elite” Por Marcelo Santa Cruz O Filme Tropa de Elite tem obtido grande repercussão, inclusive antes mesmo de seu lançamento nos cinemas.

Inexplicavelmente houve uma verdadeira enxurrada de cópias de DVDs, piratas espalhadas por esse Brasil afora, o que parece, propositadamente uma jogada de marketing.

O filme que acaba de ser exibido retrata a atuação do Batalhão de Operações Especiais - BOPE da Policia Militar do Rio de Janeiro, que invadem militarmente as favelas, criminalizando e exterminando os pobres, quase sempre negros e jovens, cujo conteúdo ideológico reproduz o pensamento de que “bandido bom, é bandido morto”.

Desta forma, o filme tem caráter de natureza fascista, pois, a operação implementada pelo BOPE não tem o objetivo de prender o delinqüente, mas o de eliminá-lo fisicamente, utilizando a tortura, instrumento apresentado como um procedimento normal e necessário para obter a confissão do acusado, desta forma, combater a criminalidade, mediante execuções sumarias. É bem verdade que “Tropa de Elite” não é o primeiro filme a reproduzir cenas de Torturas.

Na década de 1980, o filme “Pra Frente Brasil” chocou ao mostrar a Tortura de um personagem confundido com um militante político durante a ditadura.

No inicio deste ano, acabamos de assistir “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton, também criticado pelo realismo das cenas de torturas de Frades Dominicanos presos pelo regime militar pelo temido delegado Fleury.

A diferença fundamental é que esses filmes retratam fatos históricos ocorridos no período do regime militar, falam do passado e não causam nenhuma simpatia ao telespectador, não influenciam o presente como é o caso do filme “Tropa de Elite,” Ressalta-se que esse instrumento, a tortura, apresenta-se como uma necessidade ou alternativa utilizada sem nenhuma objeção no combate da criminalidade. É importante ressaltar que a tortura é crime hediondo e imprescritível, contido na Ordem Constitucional Brasileira, art. 5, inciso XLIII, e regulamentada e disciplinada em lei ordinária, (Lei 9. 455 de 07.04.1997) Outro aspecto do filme em comentário, é a forma desrespeitosa com que são tratadas as Organizações Não Governamentais (ONGs) e os jovens universitários.

Aqui gostaria de dar meu testemunho.

Faço parte, há muito tempo, de entidades não-governamentais.

Encontro-me entre um dos fundadores, nos anos 80, do MOVIMENTO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS; do GABINETE DE ASSESSORIA JURÍDICA ORGANIZAÇÕES POPULARES - GAJOP; do TORTURA NUNCA MAIS e do CENTRO DOM HELDER CÂMARA DE ESTUDOS E AÇÃO SOCIAL-CENDHEC.

Sempre desenvolvi minha militância na defesa e promoção dos DIREITOS HUMANOS em parcerias com inúmeras outras entidades e nunca presenciei ou tive pelo menos, conhecimento de que alguém com responsabilidade social, tenha utilizado maconha, consumido qualquer outro tipo de drogas ou que tenha efetuado de qualquer forma sua apologia.

Portanto, é de extrema grosseria e falta com a verdade, a versão caricaturada no filme em relação ao trabalho das ONGs desempenhado nas favelas e a apresentação dos jovens universitários, que reproduz no filme a imagem de que os mesmos utilizam de maneira generalizada e homogênea drogas e alimentam e financiam o tráfico.

Talvez, quem sabe, o filme retrata, o verdadeiro entendimento e a visão distorcida que as elites muitas vezes têm das ONGs e daqueles que fazem parte dessas entidades não governamentais, militantes dos direitos humanos e da cidadania.

Por fim, cabe dizer que a droga quando consumida por estudantes, desde à minha época de juventude, sempre foi utilizada por jovens alienados, sem perspectivas de vida e quase sempre, oriundos de famílias problemáticas.

Portanto, não é a maioria dos jovens que são viciados e muito menos, a forma de abordar essa questão não é criminalizando o usuário.

Caso o filme não pudesse fazer uma abordagem séria e pedagógica desta questão, não deveria ter efetuado de maneira superficial, leviana e irresponsável.

A definição do filme em poucas palavras, trata-se de um enredo, bem elaborados baseado em fatos da vida real, com cenas muito fortes de torturas e que essa prática é tolerada e até mesmo aplaudida como necessária, porque as vitimas são pessoas pobres, excluídas, e identificadas como “bandidos” e que há uma verdadeira guerra em defesa da sociedade.

O BOPE fundamenta e justifica suas ações em uma das canções de treinamento do grupo: “ENTRAR NA FAVELA E DEIXAR O CORPO DO CHÃO”.

Nesse sentido, passa a mensagem para o espectador desavisado de que “TROPA DE ELITE” tem a missão de controlar as denominadas por alguns sociólogos de “Classes Perigosas” utilizando a força, prerrogativa do Estado, no caso do filme, exercida contra pobres, jovens e negros, a margem de qualquer marco legal.

Outrossim, associa a pobreza como fator propulsor da criminalidade.

E, para concluir lembro que TORTURA É CRIME HEDIONDO, que não pode ser aceito em hipótese alguma, ainda que seja em filme.

PS: Marcelo Santa Cruz é vereador do PT em Olinda