Por Fernando de Barros e Silva, na FSP “A culpa é do sistema”.
Capitão Nascimento insiste nessa tecla.
Abusa da fórmula, com ou sem ironia, quando se refere à polícia corrupta e inepta, que inibe ou repele o bom policial.
Mas não só.
Em “Tropa de Elite”, este velho clichê da esquerda é virado de ponta cabeça, o que talvez ajude a explicar o sucesso sintomático do filme.
Afora a polícia imprestável, o “sistema” que “Tropa de Elite” desmoraliza, humilha e depois executa é nada menos que o conjunto da mentalidade progressista: ações, valores, aspirações -tudo vai para o lixo da história.
Os estudantes do filme são retratados como um bando de desmiolados, entorpecidos pela fumaça teórica que lhes ensinam na sala de aula; reféns, ao mesmo tempo, do baseado e do pó que obtêm na favela, onde também mantêm uma ONG e exercitam suas boas intenções sociais.
A esquerda é míope.
Há, no filme, uma tradução material dessa tese quando André, o estudante negro (também policial a caminho do Bope), descobre e mostra aos colegas de ONG que o garoto favelado de que cuidavam ia mal na escola porque não enxergava bem.
Era um problema simples, que um par de óculos resolvia, invisível, porém, aos “ceguetas do progressismo”.
A direita sempre se gabou de ser mais eficiente.
A superioridade que “Tropa de Elite” reivindica agora é moral.
O êxito sobre as esquerdas seria não apenas histórico e prático, mas sobretudo de princípios.
Este, talvez, o pulo do gato do filme, o segredo do seu apelo reacionário.
O fato é que Capitão Nascimento caiu no gosto popular.
A ideologia vitoriosa da nossa época se realiza na figura do primeiro Rambo brasileiro.
Platéias amedrontadas projetam sua impotência sobre a tela, vingando-se, com aplausos nervosos, pelas mãos do torturador.
Enquanto isso, os propagandistas do filme na mídia procuram fazer do policial psicopata e justiceiro um franco pensador dos novos tempos.
Sistema é isso aí.
Sujou geral!